A pedra bate na água e faz círculos de mesmo centro, porém mais fracos à medida que se afastam do ponto inicial. As estrelas nos mostram constelações, conglomerados, grupamentos das mais variadas formas que, em alguns casos, nem mais existem, mesmo que ainda viajando à velocidade da luz por google-milhões de anos. O som, distante de nós alguns metros, nos dá a impressão de não existir, até que seja tarde demais. Até mesmo a comunicação via-satélite dos nossos correspondentes internacionais em Atenas tem um pequeno atraso que nos dá a interessante (desconfortável) sensação de que nem tudo é ao vivo e que ainda existe o limite físico, sim senhor. Ou seja, em alguns momentos, amigos, estamos no não-lugar. Onde as coisas já aconteceram e ainda ecoam, nos nublando a verdade. O que vemos à nossa volta é apenas a inércia das coisas que começaram a acabar. A habilidade de “fazer cair este véu”, entender quando as coisas começam a mudar antes que todo mundo perceba, é a essência da prática Profissional Freelancer. É o tipo de coisa que se aprende pelo Amor ou pela Dor. Antes que perguntem: já experimentei dos dois.

Estrelas mortas

A capacidade de prever tendência no mercado é como descobrir quais das estrelas já morreram. Parece difícil, e é mais do que parece. Ao mesmo tempo em que as mudanças de mercado são a soma de vários fatores que vão se sucedendo paulatinamente, o ponto de ruptura é imediato, radical e, normalmente, sem retorno. Um dia você está sentado na mesa da empresa que você ajudou a criar, no outro, você recebe um tapinha nas costas e a triste notícia que a empresa não existe mais, perdeu seu valor de mercado, foi vendida, leiloada ou não tem mais sentido ficar fazendo sites de 30.000 quando se tem uma folha de pagamento de 1 milhão. Ou ainda: você atende a um cliente direto de seu home-office por três anos e, numa manhã, recebe o telefonema da secretária do empresário em questão explicando que nossa empresa estará tentando uma nova abordagem com um outro profissional (mais barato) e, embora estejam muito satisfeitos com o seu trabalho, estarão interrompendo o contrato. Exemplos assim entopem a minha caixa postal e a memória profissional, com e-mails de amigos e lembranças pessoais desagradáveis. Erramos? Não, apenas não acertamos por completo. E, antes de um jogo barato de palavras, acertar por completo é outra arte.

Comece com um exercício pessoal.

Perceber quando as coisas começam a mudar de rumo pode ser confundindo com pessimismo ou desinteresse. Por isso muita gente evita praticar. Imagina, três meses depois de assumir um cliente, você começa a sacar que nada vai à frente, ou que seu orçamento só será pago até o sinal, ou que a empresa tão bonitinha é um peixe-morto que só não começou a boiar por puro acaso? Duas ou três opiniões dessas e ninguém mais chama você para almoçar. Uma boa maneira de começar é um exercício pessoal. Onde você estará daqui há 5 anos? E daqui a 5 minutos? Você está fazendo algo que é para sempre? Jura? Caríssimo: nada é tão volátil quanto um posto de trabalho. A boa notícia é que a não continuidade ajuda você a oxigenar sua experiência, acredite. O erro básico: comportar-se como um funcionário público dos anos 50 numa empresa que segue modelo de outsourcing. Outro: atuar como um profissional da era da informação em outra empresa que não saiu dos anos 40. No primeiro caso você roda na primeira barca, no segundo você se cansará e perderá o estímulo. Portanto, olhe para você como um profissional em eterna adaptação, e que só existe em função de um mercado que lhe dará alguns tostões. Sem essa de se bastar ou esperar que o mundo se adapte ao seu “genial” talento. Você, pelo menos no horário normal e quando se trata de pagar contas, não precisa ser artista. Precisa entregar soluções ou, se preferir, resolver problemas. Pensando assim, há 5 anos em era redator publicitário, há 3 webwriter, há 1,5 consultor de usabilidade e há 8 meses e pouco, Editor de uma Intranet com 5 mil acessos diários e mais de 20 colaboradores. Posso parar? Claro que não, meu futuro não merece. O que virá a seguir? Estou analisando. Pessoalmente estou investindo mais em paralelismo de funções do que simples substituição. Não quero induzir vocês ao erro, fazendo-os acreditar que tudo foi planejado e arquitetado por uma mente que está a alguns milhares de anos mais evoluída que a sua e a do seu colega de baia. Errei mais do que acertei. Mas cometi os erros certos.

Uma imagem engana mais do que mil palavras.

É comum na gente que está começando agora achar que o visual do cliente/empresa representa por si só um atestado de bons antecendentes. Quem resiste a um cartão de apresentação cheio de filigranas? Ou a um portfolio impresso na Takano? No entanto, a avaliação do seu contratante/empregador/fornecedor deve ser feita de forma mais acurada. Além de vasculhar em sua rede de contatos a situação, é preciso entender como esta entidade se localiza na evolução do mercado. Trocando em miúdos. Dá para acreditar em uma empresa que faz APENAS, CD´ROM´s? Ou uma que queira vender domínios de Internet famosos? Ou uma que pensa num modelo de negócios que vai gerar uma IPO em dois anos? Tente farejar para onde vai este negócio que quer você por perto, ou até mesmo, dentro dele. Fundamentalmente: os clientes desta empresa serão bem atendidos com o que ela está fazendo? Já li que existem três tipos de profissionais: aqueles que criam para eles mesmos – medíocres - , os que criam para seus chefes – puxa-sacos, e os que criam para seus consumidores – os únicos verdadeiros. Se você pretende ou faz parte do terceiro time, vai saber pular fora do que não vai te levar a lugar nenhum.

Enxergue no macro.

Sabe aquele texto Miopia em Marketing que todo mundo lê na faculdade? É mais ou menos a mesma coisa, só que aplicada à sua evolução pessoal, ou Profissional Freelancer. Se você pensa que faz páginas html, pode estar errando no foco. Você entrega navegabilidade. Se você acha que esteve textos para web, pode estar míope. Você entrega a seus clientes, conhecimento, facilidade de leitura, concisão etc. Da mesma forma, se hoje você faz isso, amanhã poderá estar, ou deverá estar, fazendo filmes, ou TV Interativa, ou aulas para futuros profissionais. Ou tudo ao mesmo tempo.

O mais importante

E este artigo poderia ter apenas esta frase. O mais importante é antever. Pensar antes. Errar, se possível, os erros certos. Mas não deixar acontecer para depois tentar consertar. Amigo leitor, não existe classe mais desesperançada do que um ex-futuro profissional de talento.