Ali pelo início da minha vida consciente e socialmente participativa (o que se estendeu da última infância aos primeiros anos da idade adulta) tinha um comportamento complicado: dava apenas uma única chance de falha para as pessoas ao meu redor. Falhou, dançou. Assim perdi amizades antigas, alguns empregos, clientes e relacionamentos. Envidia / Envy: Eyes don't lie Creative Commons License photo credit: NeoGaboX Aí, com o tempo, cresci. E longe de ficar perdoando quem errava, aprendi a não errar eu mesmo, escolhendo como parceiros para a vida quem realmente faria jus ao título. Profissionalmente, tem dado algum resultado. Emocionalmente, rodou bonito nos últimos 7 anos, 3 filhos e muitos momentos. Mas a gente sabe que isso, às vezes, não acontece. E nem teria graça se fosse diferente. Já tratamos por aqui de Networking, esse funcionário que trabalha enquanto você está dormindo, que pode trazer novos projetos sempre que se precisa, divulgar suas habilidades pelos quatro cantos do mercado, pode ser seu principal aliado, enfim. Vez por outra, esta rede-arrastão trás, também, algum entulho. Deixa comigo! Tremo e ouvir esta frase, que mais parece saída da boca de um vendedor de brasílias usadas. Normalmente vem junto com profissionais que aceitam qualquer prazo, orçamentos, escopo. O motivo é simples: não cumpre nenhum dos três. Não se espantem de receber um e-mail 40 dias depois dizendo que estão fora do projeto, vão cobrar o dobro, ou simplesmente ainda estão pensando. A boa notícia é que não é tão difícil sacar um destes. Faça duas ou três perguntas técnicas, peça o link do currículo, ligue para supostos ex-clientes e/ou parceiros. Normalmente deixam uma trilha de “terror” por onde passam. E, claro, sempre tem a senha: ao ouvir um ‘Xácomigo....”, corra. Diploma não é passaporte. Ou seja: não basta apresentar para ter trânsito livre. Tem gente que vê alguém da PUC, da UFRJ etc, e acredita que, finalmente, estará seguro. Afinal, estará trabalhando com um expert que, só não está na NASA construindo foguetes, porque o Brasil é o país do futuro. Por outro lado, ao receberem o currículo de alguém que não trilhou os caminhos normais em sua formação, tratam logo de jogar fora, condenando este “tipo de gente” ao completo ostracismo. Nem uma outra nem coisa, camarada. Já trabalhei com excelentes autodidatas e com picaretas formados em escolas federais. Caráter não aprova nem reprova ninguém no vestibular. Esta grau, comigo, não cola. A segunda chance é a que fica O projeto é seu e quem sou seu para dizer como conduzi-lo. Contudo, acreditando no pessoal que você tem ao lado, não custa nada tentar entender o que está se passando com aquele talento que prometia tanto, mas tanto, que não cumpriu. Até que provem o contrário, temos vida inteligente lá fora para viver, sofrer, crescer etc. A questão toda tem a ver com a margem de confiança que você deposita em cada um. Ou seja, procure entender os motivos dos seus parceiros profissionais. Dos pré-selecionados, obviamente. Os fabricantes se defendem. O interessante de se observar nesta questão é que tanto contratados como contratantes parecem empatar em suas críticas quando o assunto é segurança no relacionamento entre friloprofissionais. Em um caso recente, em que um amigo-leitor do carreirasolo disparou um e-mail para seu mailling list orkutiano com o sugestivo título “Programadores...Como confiar?”, falou-se muito, levantando mais dúvidas do que respostas Na mensagem, que gerou réplicas, tréplicas, quadréplicas e etc, questões como a falta de comprometimento, profissionalismo e caráter quase que não conseguiram vir à tona, espremidas que estavam entre trocas de acusações, ataques ao livre empreendedorismo, rebates ressentidos e, até mesmo declarações mais arrazoadas. Enfim, se de um lado aqueles que demandam mão-de-obra ficam ainda mais reservados a cada calote que passa, a própria mão-de-obra em si, os friloprofissionais por definição, dividem-se em defender seus interesses frente a empreendedores “tão espertos a ponto de quererem ficar com a grande fatia do bolo e distribuírem apenas as migalhas que sobram entre aqueles que realmente deram duro no projeto” e seu direito de “recusar projetos”. É uma questão ao mesmo tempo seminal e, como toda semente, carente de atenção e observação ao seu desenvolvimento. Seria a hora de um código de autoregulamentação da livre iniciativa? Uma carta de intenções entre pessoas jurídica e física? Um manual com regras de conduta, que estabeleça até onde vai a responsabilidade de uns e de outros? Ou simplesmente não confiar como premissa? Tantas dúvidas e eu aqui como uma, digamos, reserva: o que será o pessoal que está chegando agora, com muito boa-vontade mas sem nenhuma experiência, a desbravar esta selva em que todos os pardos são lobos? E que a pele de cordeiro foi descarnada e vendida como vison, por alguns trocados? Será que sobrevivem? Será que perdem a vontade de seguir em frente???? O carreirasolo está aqui para ajudar a clarear o clima. Confiança é a primeira que morre? Tá, é. Mas a gente pode mudar isso. Alguém se habilita?