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Creative Commons License photo credit: David Boyle
Todo mundo que não é sobrinho do Roberto Marinho[bb], primo do Bill Gates[bb] ou filho do presidente da empresa já reclamou algum dia do famigerado "quem indica", ou QI. O bom e velho "pistolão", como eu sempre ouvia falarem quando era criança, sem entender para que servia uma pistola tamanho família na hora de arrumar emprego (e eu sempre imaginava ela bem grande, tipo objeto de cena dos Trapalhões). A questão é que não adianta reclamar da necessidade de uma indicação. Ela existe, mas às vezes é muito menos injusta do que parece. E não é exclusividade do Brasil, não. Aqui na Inglaterra, você só é alguém se conhecer vários outros alguéns. E se esses alguéns falarem bem de você.

Fala bem e falem de mim

Outro dia mandei um email me apresentando e me oferecendo para fazer frilas numa revista bacana. E coloquei no texto do email: "fiz o curso tal, inclusive alguns dos meus colegas eram o Joãozinho, o Manoelzinho e a Mariazinha, que estão trabalhando aí." Na mesma noite fui encontrar um pessoal no pub e o Manoelzinho (nomes fictícios, é claro – todos são inglesíssimos) disparou: "Hoje lá no trabalho estávamos falando de você!" Ou seja, não adianta somente dizer que conhece, os caras vão lá e perguntam de mim, se eu sou legal, se eu presto, essas coisas. E só depois de debaterem abertamente a minha capacidade (ou incapacidade), é que decidem se vão me dar uma chance ou não. É por isso que eles gostam tanto de eventos de networking aqui. E a coisa é super estruturada, as pessoas abordam umas às outras, "Oi, eu sou a Fulana, trabalho na empresa Tal, e você?" E o papo segue enquanto os dois lados considerarem interessante trocarem idéias. Aí eles viram para o lado e abordam outra pessoa, nos mesmos termos. Não é amizade, é networking. Logicamente eu e minha amiga italiana ficamos no canto nesses eventos, tentando pegar o jeito de uma coisa tão formal e conseqüentemente tão estranha para as nossas culturas. Um dia a gente chega lá.

Quem nunca fez networking que atire o primeiro nome

Outra coisa que eles adoram é saber que você estudou numa instituição de renome. Eu sempre aconselho as pessoas a fazer Mestrado em Artesanato em Oxford, ou Doutorado em Ponto de Cruz em Cambridge, se possível. Ninguém se importa se o curso que você fez não é o mais bem conceituado da instituição. Eles adoram nomes. Inclusive, existe até um nome para isso aqui: "dropping names" Significa despejar em cima do interlocutor os nomes das instituições que você já trabalhou, as pessoas que você conhece, os cursos que você fez (com as devidas universidades, é claro). Eles adoram isso, e abrem um olhão desse tamanho quando você despeja um nome certo.

Pare de reclamar e faça alguma coisa!

Para finalizar, eu queria só explicar o que eu disse no começo do texto que essa história de "quem indica" não é assim tão injusta. Para mim é muito claro que desenvolver uma rede de contatos e indicações tem mérito, e muito. Conhecer as pessoas, fazer um bom trabalho a ponto de elas te indicarem, ser uma pessoa interessante o suficiente para Fulano ou Beltrano lerem seu blog, seguirem seu twitter ou quererem ser seus amigos não é pouco não. É trabalho duro, e não precisa ter nascido com pistolão para conquistar isso. É lógico que para alguns é mais fácil (por morar na cidade certa, por ter dinheiro para pagar cursos e viajar, por ter um irmão que já é bam-bam-bam naquela área, essas coisas), mas mesmo sendo mais difícil não há desculpa para se paralisar. Existem bolsas de estudo aos montes por aí (como a que eu ganhei para fazer meu mestrado), e principalmente, em dias de internet, todo mundo tem acesso a informação e, principamente, acesso uns aos outros. E com licença que eu vou ali mandar um email, combinar um evento de networking e mandar umas sugestões de pauta para o editor da tal revista não esquecer que eu existo, e já volto.