Janeiro de 2015
O alarme dispara às 4:30h da madrugada. Levanto, como umas bolachas e saio para “tocar” as vacas para a sala de ordenha. A dor que sinto quando o vento bate no meu rosto recém barbeado é tão forte que, que aquela temperatura de -37°C me faz pensar...
“Frio é aquilo que eu sentia no Brasil quando ia fazer xixi e pisava descalço no chão gelado. Isso aqui é insano, tortura, inferno. Sei lá.”Pula pra Janeiro de 2016
É sexta-feira, eu acho. Acordo com um barulho de panela caindo no chão, provavelmente do meu amigo estabanado com o qual eu divido apartamento. Dou uma alongada matinal, preparo um café extra forte e abro meu laptop. Hoje vou escrever sobre os sintomas da herpes genital.
Como um ordenhador de vacas pode se tornar, em menos de um ano, um escritor freelancer?
Se você tivesse me perguntado quando ainda trabalhava ordenhando vacas no interior do Canadá, eu provavelmente teria dito que isso é impossível.
Eu diria que escrever bem a ponto de alguém querer te pagar por isso não é para qualquer um. E para quem estava acostumada a trabalhar rodeado por animais e plantações de alfafa, seria uma pesadelo ter que se adaptar a um trabalho assim.
Mas a vida tem dessas coisas, né?
Queria muito vir aqui contar os ensinamento que ouvi de algum monge do Himalaya, ou o acidente que mudou meu propósito de vida, mas quer saber a verdade? Essa mudança radical foi resultado de série de acontecimentos aleatórios e uma pitada muito generosa de sorte.
[caption id="attachment_20122" align="aligncenter" width="750"] Minha casinha no meio do nada.[/caption]
Apesar de sempre ter gostado de trabalhar com animais e ter me formado na área, por algum motivo eu estava infeliz com aquele trabalho.
Para muitas pessoas pode parecer uma escolha fácil. Afinal, qualquer pessoa iria preferir escrever no conforto de casa do que trabalhar pesado em uma fazenda leiteira.
Mas é importante deixar claro que, pelo menos lá fora, trabalhar em fazenda nem sempre é sinônimo de trabalho pesado.
Eu passava a maioria dos meus dias operando equipamentos automáticos de ordenha, dirigindo tratores ou ocupado com planilhas de custos e rendimento.
Estava ganhando bem e vivendo em um dos países mais desenvolvidos do mundo, mas por algum motivo isso não fazia feliz.
Então eu pedi demissão.
E no dia seguinte voei para Paris.
[caption id="attachment_20123" align="aligncenter" width="750"] Selfie com a Torre Eiffel. Check.[/caption]
Como sempre quis conhecer a França e não sabia muito bem o que ia fazer da vida, resolvi juntar o útil ao agradável e passar algumas semanas pelas terras de Napoleão e Lavoisier.
Mas o que deveria ser apenas algumas semanas na França se transformou em um mochilão de seis meses pela Europa.
Conheci vários países e muitas coisas legais aconteceram neste período. E como eu estava viajando sozinho e as vezes me sentia solitário, resolvi manter um blog ativo para contar minhas experiências.
Como nunca tive a intenção de investir muito esforço nele, as pessoas que o visitam eram basicamente amigos e familiares.
Um desses amigos tinha acabado de abrir sua empresa e estava procurando alguém para produzir conteúdo não só para seu site, mas também para sites de clientes. Como bom mineiro, no começo fiquei um pouco desconfiado. Não confiava muito em minhas habilidades e nunca na vida ia imaginar que alguém estaria disposto a pagar por elas, mas no final das contas acabei aceitando o desafio. Meu amigo acabou gostando dos meus artigos (até hoje não sei como) e eu gostei de escrever. Então quando chegou a hora de voltar para o Brasil resolvi investir na profissão, e atualmente sou redator e gerente de conteúdo numa empresa especializada em Inbound Marketing.
Como as coisas não estão fáceis nas terras tupiniquins, acabei criando um perfil na Workana para “dar uma forcinha no orçamento”, e atualmente a maior parte de minha renda vem dos trabalhos freelas.
[caption id="attachment_20125" align="aligncenter" width="600"] Sentimento nas primeiras semanas de freela.[/caption]
O objetivo deste relato não é passar uma lição que vá mudar o rumo da humanidade, ou te convencer de que freelancer é melhor do que trabalhar em fazenda leiteira.
Não. O meu objetivo aqui foi simplesmente contar minha história e mostrar como a vida pode surpreender até mesmo uma pessoa que achava estar fadado a trabalhar em fazendas para o resto da vida.
Também gostaria de fazer uma pergunta...
Há dez anos atrás, você imaginava estar fazendo o que faz hoje?
Deixa sua resposta nos comentários e continuaremos a conversa por lá! :)