Madrugada e eu no Táxi, pronto para enfrentar uma daquelas reuniões empacotadas que você faz em São Paulo via ponte-aérea em dia de chuva invernal, com tudo correndo rápido demais: aeroporto, café, livro para a hora e meia que se leva, aterrisagem, frio, táxi novamente, sala de reunião, essas coisas.

Mas isso tudo foi depois, porque, já sabedor de como seria o dia, àquela hora estava pensativo, ainda na linha amarela, sonolento e desconversando com o motorista. Nem me perguntem sobre o que ele falava, porque estava focado no que não me falavam soldados de um exército mudo e vencido. Um exército de diálogos promocionais pendurados em outdoors de via expressa, luminosos, os de 32 folhas, aqueles com aplique, as próprias placas da avenida, paradas de ônibus e muitos, muitos outros.

Eles calmamente esperavam para dali a uma hora, começarem a falar sem parar. Falar de novos celulares, de cursos de inglês, de governos de Estado, da playboy da fulana que fez um programa e tal. Tudo muito rápido e picotado com a propaganda ainda insiste em ser.

E por falar em insistência e apego à fórmulas gastas, ficava ali me olhando um teaser. Você sabe o que é um teaser? Ele é algo que não diz pra você quem realmente é, deixando no ar, desconfiança e frieza calculada. Ele ainda não é e, quando revelar toda a verdade para você, sua maior reação será “ah...era isso?”.

Em teoria, este tipo de artimanha deixa o público ansioso e pronto para receber uma novidade. Na prática, hipersubmetidos como somos à tanta informação, esta lógica dos teasers precisa ser revista. Ninguém mais vive de surpresa. Somos um eterno fluxo de respostas simultâneas.

O efeito surpresa, o único possível, é a verdade absoluta.