Hoje o efeito Katilce, um post que sozinho gerou mais de quatro mil pageviews em poucas semanas, volta como tema de uma reflexão que sugeri a um amigo de muito tempo, hoje economista lá em Brasília, trabalhando em um instituto de pesquisa governamental. Tasquei na lata uma pergunta quase acadêmica: A universalização da produção de informação armazenada trará que conseqüências econômicas imediatas? Fizemos um post meio em conjunto, costuramos as idéias e estamos trazendo as conclusões aqui para vocês. Antes de mais nada, obrigado pelos links, comentários, citações e tudo mais, no já citado post. Mas vamos em frente. Ah, antes de mais nada: este post tem uma coluna à direita com livros e DVD´s que achei interessante destacar como complemento ao que está sendo discutido aqui. Quem quiser, pode já adquitir o(s) seu(s) exemplar(es), bastando para isso clicar nas imagens.

Ideologia, eu quero uma para esquecer.

karlmarx_livro.jpg[bb]Como diria o velho barbudo, Karl Marx, a sociedade como nós a conhecemos depende da IDEOLOGIA e da ALIENAÇÃO. Se todos nos tornarmos hippies anabatistas e virarmos as costas para o consumo, o mundo como nós o vivemos acaba, e nascerá outro. Mas apenas extremas minorias assumem outras posturas. No geral, PRECISAMOS consumir – livros, carros, pornografia, TVs de Plasma ou verduras hidroponicas ultra-vanguardistas, vai do gosto do freguês. Mas PRECISAMOS. Setenta por cento deste país vive com um dígito a menos de renda do que eu e você. Uma boa parcela dessa galera vive tão feliz quanto nós. Fomos crianças e adolescentes junto dessa galera (Nota do Editor: para quem não sabe eu, meus irmãos, este meu amigo e tantos outros fomos criados no que aqui no rio chama-se de subúrbio.), nos tornamos classe média e vivemos em pânico com nossos filhos e sobrinhos que já nasceram classe média e não estão nem aí para os contratos de vida que nós julgamos importantes – como, por exemplo, se dedicar nos estudos pra "subir na vida" e coisa e tal. miserias_livro.jpg[bb]Mas alguém pretende mudar prum subúrbio mais tranqüilo? Tirar o filho daquele colégio particular top-top que no fim das contas treina a garotada pro Vestibular mas não está nem aí pra EDUCAR UM CIDADÂO, assim em caixa alta, mesmo? Parar de juntar uma puta grana para comprar um Tv de Plasma?? Pois é. Somos convencidos pela Ideologia a ter um comportamento estritamente necessário pra Metropólis de Lang funcionar. Mas não temos a menor noção disso, porque somos Alienados, desconhecemos o nosso real papel como engrenagens, pelo simples fato de não imaginar como seria a vida em outra "maquina". Engana-se quem pensa que somos nós que comandamos as máquinas – o Marx, lá atrás, olhava as primeiras máquinas têxteis a vapor e percebeu a mudança – coçava a barba e pensava – "Humm…" Charles Chaplin expressou como ninguém esse choque, no seu "Tempos Modernos": se os artesãos comandavam suas ferramentas, os operários não comandavam suas máquinas – elas é que ditavam o ritmo. "Ah, o mundo hoje está super-ultra-hiper mudado, com as novas tecnologias, a globalização, bla,blá,blá." Será? As DORTs não estão aí super-ultra-hiper renovadas? E a massa de informações , que nos tornaria mais livres-pensantes – "Informação é poder" – não nos tornou Dataholics escravos dos Feeds que nos tiram aquele tempo em que iríamos ao cinema, leríamos um bom livro, dentre outras coisas muuuuito mais importantes?? Pois é. Tudo muda, mas Belchior estava correto, em mais de um sentido: "ainda somos os mesmos, e vivemos como nossos pais…"

Reflexo sem reflexão

O que a geração desenfreada e universal de informação pode impactar nisso? Se lembrarmos que a maioria das estruturas fundamentais parecem diferentes, mas continuam as mesmas, em essência, o ceticismo cresce, dificultando muito a minha esperança Trekker de que o futuro trará um mundo melhor. Fico tentado a considerar uma visão pessimista e elitista – estaremos nos tornando mais conservadores. O homem comum é ignorante – no sentido estrito da palavra-, imediatista, conservador e pouco dado a reflexões. temposmodernos_dvd.jpg[bb]Como pode um Morumbi e uma Rede Globo inteira cantar "I still haven´t found" e NÃO refletir??) A imensa quantidade de informação pode nos levar a uma nova era obscurantista, porque não estamos preparados pra interpretá-las, na média Para ilustrar, ela volta. Há dois tipos de recados predominantes no Orkut da Katilce; "Parabéns, que inveja" e "Porra, vc transformou o seu namorado no corno do ano". Milhares de pessoas escrevendo sobre um show onde mais da metade das músicas e mensagens são pacifistas e cristãs no sentido "direto do autor" do termo, e olhem o que ficou na mente dessas pessoas. Aliás, não sei como foram os jornais das outras cidades, mas uma matéria do Correio Braziliense do dia 5 de março, foi na mesma linha: dedicou uma página para debater com os jovens e psicólogos daqui uma questão profunda – "Selinho no Ídolo é traição??" "Você encerraria o seu casamento ou namoro?". As respostas da "juventude" são simplesmente assustadoras, quase na linha "Quié isso rapá? Mulher minha se dá um selinho em outro homem nem precisa voltar pra casa." Em outras palavras, informação não é conhecimento. Um chip Matrix NÃO te dará a experiência de um Mestre Shaolin. Te transformará num Pitboy que luta muito kung fu, só isso. Por outro lado, isto tudo permite que aqueles que têm algo a dizer consigam ser ouvidos, antes e apesar das estruturas de mídia business – mesmo que os nossos melhores exemplos até aqui sejam a Bruna Surfistinha, o Cocadaboa e o Vizinho do Jefferson. Mas, poxa, temos o filme mais visto da história da Finlândia – que nunca foi exibido nos cinemas -, as bandas que “estouram” através dos MP3 nos sites, em cidades a milhares de km de distancia da sua residência. A mídia convencional terá que incorporar esses "novos nomes" o tempo todo, pra poder sobreviver. E aí volta aquela discussão da época da "bolha" – a indústria estabelecida saberá incorporar estes nomes e fenômenos? Ou assistiremos a criação de novos impérios? A Academia lancará Oscars para filmes virtuais?? Ou a premiação do Oscar perderá o sentido? Em vez de abrirmos jornais ou vermos o Jornal Nacional, abriremos um dúzia de blogs de pessoas com opinião representativa pra nós?? Tudo isso acontece já, sim e não, ao mesmo tempo. O Caderno Cultural de qualquer jornal que não seja a Folha de SP já corre atrás, com 48 horas de atraso, do Omelete – pelo menos no que diz respeito a cinema. Nunca mais li uma novidade nesses cadernos. Por outro lado, o Mauricio Ricardo, do www.charges.com, já realiza trabalhos periodicamente para a Globo. E na parte de política e economia, não aconteceu nada semelhante – há rostos da midia tradicional como o Ricardo Noblat e a Lílian Witte Fibe surfando uma nova mídia, mas não há ainda uma “BrunaSurfistinha” falando da vida econômica como ela é. Resumindo, a discussão levantada no CarreiraSolo tem fundamento, sim, quando vocês percebem que há um espaço não ocupado entre a produção de conteúdo e o mercado pra esse conteúdo – sejam clientes corporativos ou consumidores diretos. São esses caras e/ou empresas que vão definir o resultado final dessa zona. Porque os "novos produtores de informação" , sinto muito, não estão nem aí. metropolis_dvf.jpgNeste ponto chegamos a um questionamento fundamental: Como nos dividiremos? Entre Jedis e Siths? E onde estarão os Jedis? Intermediando a transformação das empresas tradicionais ou criando novas estruturas?? Prefiro ser o Jedi que distribui pílulas para quem quiser sair desta Matrix. E o Sith que leva este conhecimento a empresas que queriam faturar. zeh.jpgEste Post coletivo foi escrito, produzido e dirigido por Mauro Amaral e este camarada da foto logo abaixo. José Aparecido Carlos Ribeiro, casado, 31 anos, é economista, professor, baixista e leitor voraz de HQs, não necessariamente nessa ordem. Já tocou comigo numa banda de subúrbio e, em Brasília, teve algumas temporadas de relativo sucesso nas festas da UNB e nos bares da cidade com a TAXI BLUES. Já foi professor-subsitituto na Universidade Federal Rural do RJ; Estagiário Docente (PED) na Unicamp; e professor da AEUDF - atual Centro Universitário UniDF. Trabalha como pesquisador no Instituto de Pesquisa Economica Aplicada, na área de Políticas Sociais, está adorando a fase de Joss Whedon como roteirista de X-Men, e garante que estava sóbrio durante as nossas conversas por email que confeccionaram este post – ainda que as mesmas tenham se realizado durante o Carnaval."