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Sala de informática de colégio particular em bairro classe média carioca. Professor entra em sala e os alunos estão prontos, e porque não dizer ansiosos, para assistir a primeira “aula de Internet” do semestre. A partir daí, o que poderia ser uma nova dimensão para o aprendizado, a independência intelectual e a inclusão digital – o que aconteceria mais cedo ou mais tarde tratando-se de crianças com casa, computador, pais etc - , transfigura-se numa desastrada apresentação de despreparo. Cena 1: Entendendo tudo errado.
Agora vamos acessar este site aqui (tudosobregeografia.com.br ou algo assim). Veja que interessante: vocês podem pintar o Estado e ele diz a população, as tradições e informações muito importantes para seus trabalhos escolares.
Pensava, até ouvir isso numa mesa de jantar em família, que a Internet fosse um meio em que você tem sob controle o fluxo de informações, onde você pode pesquisar e montar sua própria linha de pensamento, ou menos até, que você pode encontrar e selecionar o que quer, e não receber tudo pré-empacotado. Então quer dizer que a Internet, na verdade, é uma fonte de CD-ROM´s acabados onde se pode brincar de estudar? Caramba! Entendi tudo errado. Cena 2: Mandando fazer tudo errado.
Mas não é só isso. Com a Internet você pode também pesquisar para fazer seus trabalhos. Vamos no Cadê procurar tudo sobre esportes. Quero que vocês desenvolvam uma página de Word (sic) com o que vocês encontrarem sobre esportes.
Ato contínuo, os moleques de 11-12 anos digitaram “esportes” na barra do Cadê e depararam-se com a incrível marca de 3.020.000 de resultados. Se o tivessem feito no Google, seriam 1,780,000; ou 1.070.000 se tivessem clicado no “páginas no Brasil” Sem nenhuma orientação de como melhorar suas buscas, ou até mesmo de como um mecanismo de busca funciona, sem conceitos básicos de como se seleciona e lê na web, enfim, sem nada, pegaram algumas das primeiras páginas, provavelmente a de melhor design, ou a mais famosa, copiaram e colaram no Word, matando de uma vez só todo o espírito da coisa. Não foi culpa deles. Digitaram o nome e a turma e dirigiram-se à mesa do professor. Cena 3: Trabalhando no lugar errado.
Eu não posso aceitar o trabalho de vocês, está em inglês. E eu não leio inglês!
É de cair para trás né? Até agora não entendi se o professor estava pleonasticamente criticando o “coy&paste” dos moleques ou se realmente, não dominava a língua em nível suficiente para ler uma página de CNNSports...No primeiro caso ,está errado por cobrar sem prover. No segundo, por trabalhar sem poder. Finalle: Uma criança perdida.
Mas aí, no final da aula, o professor liberou para a gente jogar, aí fomos no site que tem uma série de jogos e uns links muito maneiros para uns portais especializados em jogos em 3-d. Você conhece Pai, um pinball do Mickey que parece que é em flash...!
Nem preciso dizer o que quero dizer. A Internet não é tecnologia para as gerações que se seguirão a nossa. É um canal de comunicação e entretenimento consolidado. Enteder sua linguagem é mais do que ouvir, é aprender a falar novamente. Nas mãos de professores que encaram essa de ensinar missa ao padre, está uma missão muito importante: transformar o interesse disperso em atenção produtiva. Custava chegar na sala e falar do básico, ou até mesmo da Wikipedia, e dizer que tudo isso pode ser recriado em linguagem de games? Que hoje todos somos recepto-emissores de uma mídia que nos envolve? Aristóteles dizia que nada é tão complicado que não possamos dizer que forma simpes. Nelson Rodrigues, que todo unanimidade é burra. E eu que, a continuar este tipo acontecimento, já já bolo um curso para Apreciação Digital. Ei, boa idéia hein? É minha, ninguém tasca.