Vocês não acreditariam se eu enumerasse a quantidade de emails de estranhos que recebo com ordens. É um tal de “primeiro quero estimativa”, “aguardo resposta imediata”, “analise isto” e “preciso da resposta até amanhã” que deixaria os piores ditadores rubros. Pensando que estamos aqui para solucionar uma necessidade sua, enquanto cliente, e que ela exista, sigo enumerando algumas dicas que aumentarão a chance de um profissional sério e competente ler seu e-mail com toda atenção que ele merece. Se for cliente, leia com atenção. Se for freela, leia com o dobro de atenção. 269/365 - why even have that deal?
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A escravidão foi abolida.

Mesmo que eu fosse sua funcionária (e eu não sou), isso não é forma de falar com os outros. Como você espera que uma pessoa que sequer te conhece responda com um mínimo de boa vontade se você já começa dando ordens? O curioso é que eu só recebo este tipo de email de pessoas que sequer conheço e que me pedem favores. Sim, favores. Avaliar algo, orientar, dar dicas, falar onde consegue endereços, são fa-vo-res. Analisar originais, inclusive, é um trabalho pago. Você fala assim com o seu cachorro? Quem te deu o direito de falar assim comigo? Que coisa.

Tenha um mínimo de educação, pelamordedeus

Obrigado e por favor foram abolidos do idioma, por acaso? Você quer minha ajuda? Peça. Simples assim. Não me dê ordens. Comece se apresentando, por exemplo. “Olá, eu sou o Fulano, especialista em ração de gato. Escrevi um artigo sobre o assunto. Você pode me dar alguma dica do que fazer com o texto agora? Obrigado, Fulano” é mais que suficiente. Não quero saber que o seu primeiro cachorro se chamava Totó em Pirapora do Bom Jesus e que quando você tinha 5 anos quebrou a perna, mas preciso saber com quem estou falando, ora bolas. Diga claramente o que quer. Eu não sou adivinha. E, no dia em que conseguir dons divinatórios você pode ter certeza de que vou usá-los para ganhar sozinha a mega sena da virada e não para adivinhar o que você precisa. Eu não te conheço? Tudo bem, eu não mordo, mas também não tenho bola de cristal.

Não implore

Não mande um email do tipo “ah coitado de mim ninguém me ama ninguém me quer” ou “por obséquio a senhora pode...”. Eu não sou o Papa, não me trate como tal. Quer ir a um confessionário? Tenho certeza de que você vai encontrar um na esquina da sua casa, em um lugar seco, protegido da chuva e com um pouco de sorte com luz colorida criada por uns lindos vitrais. Sério, educação é uma coisa. Humilhação é outra e torra o saco.

Só sua mamãe, meu bem

Não chegue dizendo como o seu texto é maravilhoso, como o seu livro é fantástico, como o seu desenho vai mudar o mundo ou que o seu trabalho vai trazer a paz mundial. Muito provavelmente não é, não vai. Os bons produtos finais (livros, sites, desenhos, o que for) são fruto de muito trabalho e de trabalho em equipe. Um bom livro com um projeto gráfico lixo não vai vender (e portanto não vai ser lido e portanto não vai livrar o mundo das cáries). Então, apresente o que tem para apresentar. Um texto, uma imagem, um portfólio, uma ração de gato, o que for. Provavelmente não é o melhor e certamente não é o único. E isso não é problema algum. Para cada necessidade existe um profissional. Então, o seu portfólio não ser o melhor do mundo é bom, porque o melhor portfólio do mundo precisa do melhor cliente do mundo e, como todos nós sabemos, esta é uma figura mítica.

Pediu opinião, escute

Se você pediu a opinião de um profissional da área, escute. Não importa se é um médico, um editor, um advogado ou um designer. Nada nesse mundo te obriga a concordar com o que quer que seja mas escute, pense, reflita e tire suas próprias conclusões que podem ou não concordar com o especialista. Ou então poupe o tempo do pobre infeliz e nem pergunte. E respeite. Analisar dá trabalho. Analisar algo exige um somatório de experiência e conhecimento que o especialista normalmente levou décadas para adquirir. Ser grosseiro por ouvir uma crítica construtiva é necessariamente uma recusa ao crescimento, é coisa de criança pequena fazendo manha. E, acredite, nada faz com que alguém perca o respeito por você mais rápido do que uma grosseria gratuita. Como já dizia padre Antonio Vieira, “a restituição do respeito é muito mais difícil do que a do dinheiro”.