Eu não nasci escrevendo. No início, tinha muita dificuldade. Meus professores, do antigo primário à Teologia, que o digam. Mas eu precisava me superar e seguir em frente. Afinal, não existe opção para quem deseja viver da palavra. E então, me foi concedida a suprema graça de fazer um curso de Redação com, nada menos que, Ricardo Ramos. O mestre é filho de Graciliano Ramos e, então, profissional de Criação na indiscutível McCann Erickson Publicidade, hoje capitaneada também por Washington Olivetto. As aulas eram dadas na celebrada Escola Superior de Propaganda e Marketing - ESPM, onde depois cursei pós-graduação e produzi o que seria meu primeiro texto publicado no Estadão, com a bênção de Joelmir Beting. De lá, sai com algumas certezas. Uma delas, a de que escrever é algo simples, que se consegue, acima de tudo, pelo exercício de disciplina – ainda não percorri toda a estrada. Disciplina e alto nível de exigência pessoal. Fosse de outro jeito, o ganhador do Pulitzer e do Prêmio Nobel de Literatura, Ernest Hemingway, jornalista americano de primeira linha, não teria escrito 39 vezes a última página de "Adeus às armas", segundo revelou numa entrevista à Paris Review, até ficar satisfeito com o resultado. Se posso resumir, mesmo correndo o risco de parecer simplista, a arte de redigir tem muito mais a ver com atitude Em outra área, o britânico David Ogilvy, papa da propaganda, jamais teria gasto seu tempo escrevendo até 22 versões para o título de um anúncio publicitário, antes de pronunciar o Eureka! Assim como não revelaria isso que, para alguns, poderia ser visto como atestado de incompetência. Tanto em Hemingway, quanto em Ogilvy, essa postura significava a melhor e mais pura tradução do sentido de profissionalismo. Somente o melhor é o melhor. Ponto. O resto é medo ou preguiça. [caption id="attachment_17954" align="alignnone" width="640"]Ernest-Hemingway - 640 Ernest Hemingway reescreveu 39 vezes a última página de "Adeus às armas".[/caption]   Ao contrário do que alguns imaginam, escrever não supõe o exercício de decorar complicadíssimas regras gramaticais. Fosse assim, todos os que conquistaram um título de pós-doutorado em Letras seriam, automaticamente, novas versões de Machado de Assis, Willian Shakespeare e Fernando Pessoa, apenas para citar alguns exemplos. Nada mais falso. Se posso resumir, mesmo correndo o risco de parecer simplista, a arte de redigir tem muito mais a ver com atitude. Ler muito, a fim de obter repertório. Dominar algumas técnicas básicas de criatividade e redação para não se perder no caminho. Ter algo relevante a dizer. Falar no papel. Revisar. Revisar. Revisar. Por fim, depois de ter criado como artista, ler em voz alta, com ouvidos de maestro, que, além de tudo, revelarão as lacunas deixadas ao longo do trabalho no que diz respeito ao uso do idioma. Edição é tudo. A boa notícia: basta uma ideia, uma caneta e um papel de rascunho para se obter a vitória esperada nessa grande guerra. O que mais é necessário? Nada, além de apenas começar agora.