Em conversa informal há um ano atrás, comentei com o amigo Cris Dias: “poxa, acredita que até hoje não vi um capítulo do Lost...mó mico”. “Calma rapaz, no próximo evento que participarmos eu levo os DVD´s da primeira temporada. Vi, assisti, gostei e descobri que o mantra da produção no mundo de hoje poderia ser cantado assim: torrentttttssssredeeeesssocciiallllllluébidoispontozerooooommmm Criadores americanos perceberam isso e, entre mortos e feridos, usaram e abusaram da rede para divulgação de seus episódios, sinopses, fãs, promoções. Podemos citar o “Lost Experience” como um ponto alto, onde pedaços de um vídeo secreto “vazaram” pela rede e o grande barato foi procurar estas partes e fazer a história completa. Fazer a própria história poderia ser outra maneira de entender porque o modo de consumo de conteúdo “televisivo” mudou. E, na minha opinião, para melhor. Nas esteira de tanta evolução, Fábio Spiceee (sim, o autor do Pensaletes) criou o Orangotag, um ambiente descompromissado e fluido onde fãs de séries (todas elas!) podem trocar idéias, resenhar episódios, fazer uma agenda dos episódios vistos e muito mais. Por lá percebemos que a terceira temporada de Lost já terminou. A primeira de Heroes também. O ritmo é o ritmo de quem tem pressa de fazer a própria história. Conta pra gente aí, Spiceee, como você está escrevendo a sua?
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Como surgiu a idéia para o Orangotag. E mais...do rabisco num guardanapo até o primeiro protótipo tivemos quanto tempo?

A idéia do Orangotag partiu de uma necessidade minha de catalogar de maneira rápida e informal as coisas que eu consumia: livros, dvds, cds, etc para o sidebar do meu blog, o Pensaletes. Escrevi uma aplicação muito básica em Rails que funciona até hoje e que é chata de atualizar porque preciso inserir os itens um a um ao invés de ir buscá-los num site repositório de produtos, como a Amazon, visto que alguns dos livros, hqs, etc, são publicados no Brasil e não estão catalogados lá. Como não existe um repositório central de mídia no Brasil, já que sites "magazines" como Americanas.com e Submarino não disponibilizam uma API - uma camada de programação que permite que qualquer desenvolvedor interaja com a loja de um outro site ou aplicação - a maneira de se ter um site tipo checklist de mídia só pode se dar por um esforço colaborativo e daí a web 2.0 entra como solução e não como conseqüência. O rabisco do guardanapo foi um esqueleto básico da aplicação que o Anderson Kenji Mise, do blog vardump.com fez no Basecamp (um project manager para o qual Rails, a plataforma que faz o Orangotag funcionar, foi escrita) em 16 de junho de 2006. Eu comecei a programá-lo em fevereiro desse ano e ele está no ar há 2 meses e três dias.

O que mais me chamou atenção foi o clima despretencioso do site. Vocês, pelo menos até agora, não perderam o clima "Amigos que encontram amigos e compartilham seus interesses". Tenho visto muitos projetos com cara de web 2.0 perderem este clima logo depois do lançamento. A interface simples (fluida), funcionalidades enxutas e o foco em conteúdo garantiram uma boa impressão inicial. Como fazer para manter este clima "indie"?

Acho que isso talvez venha da própria iniciativa do projeto: "precisamos organizar esse monte de séries que assistimos o quanto antes" e não "precisamos fazer alguma coisa web 2.0 que alguém ainda não tenha feito". A interface é o que mais dá trabalho no site, de longe. Tem sido fácil mantê-la fluida por enquanto, mas vai ficar cada vez mais difícil à medida que novidades vão sendo adicionadas. Eu mesmo não estou satisfeito com algumas coisas dela, mas gosto da solução que chegamos de evitar mensagens crípticas e de não ter que explicar tudo o tempo todo.

Você recentemente gravou com a turma do Braincast um programa sobre Liberdade Digital (Galera, me convidem para voltar no próximo hein!). Muitos dos leitores aqui...e...vá lá...eu também...consumimos séries através dos torrents...Como você vê esta tendência e em que este ambiente se vê impactado (legalmente, funcionalmente) por isso?

Os meandros legais desse lance de séries em rede p2p é algo muito confuso. Pra você ter uma idéia, agora tem gente nos EUA transmitindo a série ao vivo por sites tipo ustream.tv: as pessoas não querem esperar nem mesmo o torrent ficar pronto! Eu pagaria por um serviço como o do iTunes, que deixa você comprar as temporadas das séries que mais gosta e vai baixando um novo episódio sempre que este fica disponível, acho que as distribuidoras das séries no Brasil têm a chance de correr atrás disso e não repetir a enrolação das gravadoras, por exemplo. Eu vejo que o Orangotag como ferramenta pode funcionar em qualquer tipo de situação: para quem vê a série na TV paga ou aberta, quem está vendo a série agora no DVD, quem vê a série fora do país, quem baixa o torrent. Estou pensando em como tornar a informação mais útil para quem assiste a série na TV paga, mas estou em dúvida entre formalizar essa informação num campo "wiki" separado ou deixar o próprio senso colaborativo do site se organizar em torno disso, colocando a informação na descrição da série, como algumas séries até já possuem.

Quais são os próximos passos do projeto?

A idéia é criar mais funcionalidade para que quem assista à série tenha mais controle sobre o ambiente que a cerca: possa esconder comentários que são spoilers, banir ou indicar membros que estão se comportando mal, etc. Refinar o processo que corrige erros na listagens dos episódios também é um trabalho constante e também precisamos implementar os plugins para blogs e abrir a API do site para quem quiser estender a aplicação. Depois, fazer o site entender todo tipo de mídia e não só séries. O objetivo final é ter um lugar onde todos meus filmes, hqs, livros e séries estejam catalogados. Daí o meu problema estará resolvido e quem sabe o de mais gente também!

Chamada geral!

Porque você não dá um pulinho por lá e faz a sua conta? A minha já está lá.