Chega um momento em que a gente tem que parar e dar o braço a torcer. E o show do U2 em São Paulo, ocorrido ontem, foi um desses momentos. Não pela qualidade musical, muito boa, pelo evento em si, memorável, pela comoção do público, histórica. O show do U2[bb], que se repete daqui a pouco, não me tocou só por isso. O momento me tomou desprevenido, em casa, como profissional de comunicação que pretende levar aos seus clientes uma visão contemporânea do que hoje entendemos por aquele velho fluxo que, outrora, nos classificava como emissores e receptores de mensagens várias. Vou explicar. Vi o show do U2[bb] do sofá, tendo que aturar a cobertura da Rede Globo. Meio contrariado por não ter conseguido os ingressos, iniciei com um pensamento: o Rio recebeu o eco do século XX, um show estranho do Rolling Stones, coisa meio turística, 1 milhão e tantas pessoas, uma grande massa disforme que cantava num embromation os hinos de uma época que, sei lá, já passou. São Paulo, por sua vez, recebeu a trombeta (não a sétima, apocalípticos de plantão) do século XXI. Letras globalizadas, campanhas publicitárias cruzadas, direitos humanos projetados na tela imensa e ultra-tecnológica. Em meio a isso tudo testemunhei o já esperado Messianismo de Bono (com direito a encenação meio Edipiana, olhos vendados por uma bandana da Campanha COEXIST), os riffs já clássicos do Edge e estaria muito bem assim se...os celulares não se levantassem.

Pontos luminosos saindo de praticamente todas as mãos

Na hora, como de estalo, rememorei os e-mails que eu, Cristiano Dias, Carlos Merigo, Fábio Seixas, Humberto Oliveira e Rafael Apocalypse trocamos quase todos os dias. Aquilo ali era a prova cabal do poder que pessoas, antes apenas consumidoras de informação, têm. Quantos pontos de vista (para não falar fotos e vídeos) seriam publicados horas depois? Carlos Merigo, o único da turma que estava por lá, mandou hoje pela manhã:
...quando apagaram as luzes, o que se viu foi assustador. Milhares de pontos luminosos saindo de praticamente todas as mãos. Não tem intermediário na informação, não tem ditadura da informação. Todo mundo produz e distribui conteúdo.
(Só para dar um exemplo, uma das fotos enviadas pelo próprio Merigo)
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Todo mundo produz e distribui. A entropia é o novo modelo de comunicação?

Podemos dizer que o show do U2 ontem é também um reflexo do cenário que vemos na web no que se refere a autoralidade de todos aqueles que antes eram apenas consumidores de informação? Sim. Como vender para nossos clientes campanhas de massa, depois de uma demonstração dessas? Difícil. Mas também uma excelente oportunidade. Quando discutimos modelos de comunicação baseados neste momento histórico...a primeira dificuldade é: você não têm mais controle. Então, como criar um modelo? E porque não pensar de outra forma? Porque não assumir a própria entropia como modelo? Hoje, através de manifestações como essas, percebemos que é menos controlar e mais saber acompanhar estes fluxos de informação. E quando nos referimos a business, é pegar o cliente pela mão, leva-lo até a janela da agência e dizer: amiguinho, em cada janela daquela tem alguém criando seu próprio veículo. Esqueça o antigo poder de controlar, esqueça. Você precisa é de quem entenda como isso funciona, possa entrar lá nessa entropia louca e plantar a sua mensagem, fazendo dela um conteúdo interessante. E fazendo de cada consumidor, seu multiplicador. baranga-u2.jpg

Pegue o cliente pela mão e apresente este novo mundo para ele.

Comece mostrando as fotos do Flickr. Horas depois, antes das capas dos jornais, já estava tudo lá. Vídeos inclusive. Depois, conte a história da Katilce, que foi levada ao palco, dançou e ainda tascou um selinho ao vocalista. Dos 71.000 recados instantâneos em sua página no Orkut, dados de 14h de hoje. Das comunidades que já foram abertas, algumas com centenas de usuários. Centenas. Milhares. Fale que a própria banda tem seu blog. Fale que antes tínhamos isqueiros, agora temos aparelhos de celulares levantados, num desejo de expressão infinito que nem desejo é mais. É poder. Fale que o poder está nas pessoas e não apenas em uma única mensagem. Fale para seu cliente porque senão o mundo falará por ele. E hoje tem tudo de novo, daqui há algumas horas.