Essa frase é famosa e serve para dar o pontapé inicial a este post onde, dentro da minha humilde experiência, pretendo enfocar como o multitalentoso pode sair na frente, ainda mais em tempos de crise, e continuar na frente depois. Primeiramente, algumas definições e imagens tem de ser elaboradas. Que profissional é você? Quais são os seus talentos? Qual a ordem de grandeza? Como me vejo? Como me vêem? E finalmente: Como quero ser visto? Vou usar três exemplos, me baseando em esportistas famosos e, depois, vamos ver como isto se dá no mercado gráfico, que é de onde tiro minha vivência. zico

Zico, Michael Jordan e Rogérico Ceni. O que eles podem ensinar?

Outro dia vendo um jogo do Fla pela TV, eis que o narrador pergunta ao Júnior (que foi companheiro do Zico naquele Fla da década de 80) o seguinte: “Júnior, no seu tempo os times pequenos também faziam retrancas tão difíceis de furar como os de hoje?” a resposta: “sim, mas tínhamos um cobrador de faltas fora de série, né?” (risos) Referindo-se, obviamente, ao Zico[bb]. Meio–campista habilidoso, lançador inteligente, artilheiro, cobrador de faltas, capitão do time e, além disso, um cara reconhecidamente íntegro. Está aí um ótimo “case” a se estudar sobre imagem. Não pensem que o Galinho é assim por acaso. Treino, dedicação, senso ético e atitude. Tem muita gente que ainda questiona o “talento real” do sujeito, mas a sua imagem não, esta é inquestionável, ao menos até hoje. jordan Lendo a biografia do Michael Jordan[bb], uma questão que me chamou muito a atenção foi o insight dele a respeito do cenário profissional quando da sua chegada a NBA. Era uma época coalhada de jogadores de vulto, uma época de ouro, mas, havia uma questão muito importante: famoso era o cara que atacava e fazia muitos pontos. Os defensores eram considerados como de segundo time. Ao notar isso, Jordan arquiteta o seguinte pensamento: “Para me destacar, terei de ser um jogador decisivo nos dois lados da quadra”. Sendo, acho eu, o único a constar nas listas de defensor e atacantes legedários da NBA. A frase “a defesa ganha o jogo” passou a ter a sua real importância no time do Chicago Bulls onde jogavam Jordan e seu escudeiro Pippen. Michael pegou uma disciplina considerada secundária pelos craques de sua época e fez dela o trampolim multitalento para o seu lugar ao lado e acima de seus próprios ídolos. ceni O goleiro cobrador de faltas, Rogério Ceni[bb], dispensa comentários. Com todos os seus títulos, gols de falta e defesas espetaculares, tanto que, mesmo quando fracassa, e é raro, a conta é tão a favor que seus erros passam sem estardalhaço. Porém, uma faceta do craque que poucos sabem é a de líder e “administrador” de talentos no São Paulo Futebol Clube. Em mais de uma vez ele resolveu crises, incentivou decisivamente na atuação, de outros craques do time, assim como, fez trabalho de prospecção e incentivo a jogadores de outros times a irem ingressar no São Paulo, mesmo que na époce tivessem bons contratos com outros times. Tudo isto motivado pela imagem sólida, ética e apaixonada pelo seu clube. Não fosse ele um multitalento, talvez não tivesse conseguido ser o jogador que é hoje. Pois, certamente existem goleiros muito melhores do que ele, cobradores de falta idem, e líderes também, mas os três em apenas um atleta? Só o Ceni.

Tudo o que você é e mais um pouco

Todo os três sabiam em qual campo prioritáriamente tinham de ser bem sucedidos. O Galo metia gols, Jordan era cestinha, Rogério exímio goleiro. Com o saldo de suas habilidades primárias, foram alçando as outras, fossem arremessos de 3 pontos, driblar um time todo, ou pedir para cobrar uma falta, mesmo sabendo que o revés poderia ser um contra-ataque fulminante. Todos sabiam que, antes de se execederem, tinham de ser excelentes, acima de suspeita, nas suas habilidades base. Acaso fosse diferente, teríamos estes comentários: “Rogério Ceni, mais uma vez, falha em uma defesa capital e ainda assim não abre mão de cobrar faltas, será que não deveria treinar mais a defesa e deixar as faltas para quem sabe cobrá-las?” ou “Apesar da forte defesa, Jordan não consegue repetir uma sequência de boas atuações no ataque, com isto, não há como o Chicago Bulls fazer uma boa campanha.” ou “Para que o Zico cisma de driblar toda a equipe adversária se mal consegue uma boa média de passes? é craque, mas precisa treinar mais”.

E agora, no mundo real...

No meu caso, longe de ser um craque (risos), sou designer formado, mas passei a maior parte da minha vida sendo arte–finalista, além disso, tenho algum talento para ilustração, já trabalhei como coordenador de produção e de vez em quando uma alma caridosa diz que eu poderia até ser redator (risos). Arte–final e design são disciplinas que, sob a visão preconceituosa do mercado, são conflituosas, daí eu levei muitos anos e reveses para dar o braço a torcer e entender isso, pois, para mim, particularmente, não tem nada de conflito, muito pelo ao contrário. Aí entra uma questão de percepção e imagem. Como eu me via? Pimpão, o cara, dono da rua, porquê eu era um designer com muito mais ferramental que a maioria. Como me viam? "Ah, esse cara é mais um arte–finalista que acha que pode ser designer, mais um designer wannabe, como diriam na gringa." Hoje, depois de muito tempo e muitos frilas e um plano cuidadoso, pois eu não posso abrir mão de uma profissão onde eu sou reconhecidamente bom, como arte–finalista, para entrar numa onde a concorrência é absurdamente alta, a de designer gráfico e daí eu tinha que mostrar que eu poderia ser as duas coisas. Essa visão só pode se realizar com a Carreirasolo, porque sendo freela, eu posso ser o que eu quiser, posso me mostrar conforme o planejamento da ação exija. Hoje, a idéia de que eu possa, além disso tudo, ainda ser ilustrador, já não soa tão estranha para meus chefes, amigos e clientes em geral. Levou tempo, alguns fracassos e, antes tarde do que nunca, o meu multitalento começa a ser bem visto.

E onde entra o título do post?

O multitalento é o melhor amigo do cliente, mas ele não precisa saber disso logo de cara. Hoje eu posso cobrar como designer e arte–finalista, sim é justo, são dois trabalhos e eu vou trabalhar por dois, as mesmas horas, porém meu prazo é mais enxuto e eu controlo 100% da qualidade e ainda posso fazer acompanhamento de gráfica e ainda que terceirize uma ou outra coisa, tenho conhecimento para me relacionar integralmente com os terceirizados. Caso eu precise refazer meus orçamentos, posso fazer bons descontos, afinal eu sei exatamente quanto vai de esforço em cada área. Dá pra ganhar mais dinheiro ou ser enxuto quando for o caso, sem ter prejuízo. Tudo isso vai por água abaixo se você se apresentar de uma forma incorreta. Dificilmente alguém que me contrata para arte–finalizar, vai me contratar para ilustrar ou criar. Uma vez que veja meu portfólio e goste, pode ser que continue não me chamando para criar e desista de me chamar para arte-finalizar por pensar que eu seja um profissional de luxo.

Imaginem se o Jordan começasse sendo bom na defesa?

Por isso, fazer um plano é passo muito importante. Quem eu sou? O que eu faço? Como me vejo? Como me veem? Como quero ser visto? Identifique os antagonismos e preconceitos no seu multitalento e os use com sabedoria, ao invés de se anularem, usem–os para potencializar o talento–base. Daí, sim: “Pôxa, você me entregou isso rápido!” “Obrigado, facilita o fato de eu mesmo ter arte–finalizado a peça.” ; ) Grande abraço e um bom plano para todos!