Estávamos em 1980. Ele gostava de me mostrar a seção "Há 50 anos..." famosa no O Globo, que falava sobre a capa do jornal na mesma data, só que, claro, há 5 décadas no passado. Sombrio, ele dizia: logo depois que nasci, o entrou numa guerra, que mudou tudo à nossa volta. A alimentação era racionada e os carros no Brasil usavam gasogênio". Morte, fome e petróleo. Pausa. 23 anos depois, estou sentado em minha mesa de trabalho, sou um profissional de web e tudo me leva a crer que estamos no século XXI. Resolvo então dar uma olhada no GloboOnline. Repetinho o ritual aprendido com este mesmo pai, começo pela editoria internacional (sempre pensamos globalmente lá em casa). E aí me deparo com a mesma capa que ele me mostrou naquela ocasião. Colorida, com outros personagens, numa versão que só o FlashGordon (seu herói preferido) poderia ler, ou seja, versão eletrônica; e apesar de todas estas diferenças, lendo pelas entrelinhas - como sempre faço com qualquer produto da mídia -, e só encontro as mesmas coisas: Morte, fome e petróleo. Longe de entrar por questões metafísicas sobre a passagem do tempo, penso que esta capa é uma ótima oportunidade para levantar uma questão que há muito está na cabeça de várias pessoas: Será que o mundo está em guerra e esqueceram de avisar pra gente? Este medo mundial ( a polícia de Londres acha que a cidade será o próximo alvo), este Eixo do Mal - invisível com Hitler desmorto em seu Bunker, este anti-herói dele mesmo que é o Bucha, o fantoche Bruxa de Blair,...tudo muito semelhante a nossa própria história, a nossa própria derrota. Morreram as ideologias e com elas nós mesmos, nosso tempo, nossos objetivos a longo prazo. Vivemos através da administração de nossas contingências pessoais. O ultra-pessoalismo invade todas as esferas e, neste não passar das horas, no ditame da instantaniedade, esquecemos de enxergar o óbvio: O mundo está em guerra mundial. Contra quem? Contra sua própria derrota. O mundo luta para não perder. E se perder, tudo dará no mesmo.