Esta coluna se propõe a sanar algumas dúvidas mais comuns do mercado editorial e, sem dúvida alguma, as etapas envolvidas no envio de um original para análise são uma parte importante do processo.
Como preparar o meu original para análise?
Antes de mais nada, certifique-se de que o seu texto está pronto para ser analisado. Ou seja, ao relê-lo, a sua mão não coça por mudanças estruturais. Claro que um ou outro polimento vai sempre existir. Tenho certeza de que se perguntássemos ao Camões hoje, 500 anos depois, ele teria alguma vírgula a alterar em Lusíadas. É importante, entretanto, que a sua estória esteja toda lá e contada como você quer.
Formatação
A parte de formatação é simples. A menos que o editor peça diferente, mande impresso, pelo Correio, em times ou fonte similar, corpo 12, espaço duplo, páginas A4 ou Carta numeradas, com cabeçalho ou rodapé que conste o título e o seu nome. Algumas editoras gostam de receber encadernado, outras não. Se você não sabe a priori, envie encadernado de forma simples, com espiral. Não fique inventando moda onde o que deve brilhar é o seu texto.
Ah, estamos no século 21, eu quero enviar por email!
Algumas editoras até aceitam originais por email, mas é raro. O motivo é que aceitar o texto por email significa provavelmente imprimí-lo. É que a versão impressa dá ao editor uma noção muito melhor do tamanho do texto e facilita anotações. Além disso, é muito comum os editores levarem trabalho para casa e vão lendo no caminho. Agora, imagine trabalhar 12, 14 horas por dia com leitura. Não há olho que aguente tanta tela de computador. Lembre-se que é um humano que lerá o seu texto.
Mando para um revisor antes?
Muitas pessoas me perguntam sobre revisão. Revise seu texto, é lógico. Cachorro com x dói na alma de qualquer um, ainda mais na de um leitor profissional como um editor. Não é tampouco para ficar neurótico com isso. As editoras tem revisores e, se o seu texto for aprovado para produção, passará com toda certeza por pelo menos uma revisão competente.
Eu tenho tudo pronto, capa, diagramação, tudo!
Outro aspecto importantíssimo é o acompanhamento de imagens. Não mande, simples assim. As editoras tem suas preferências e seus motivos para escolher a ou b fotógrafo/ilustrador/capista. Se você for ilustrador e escritor infantil ao mesmo, por exemplo, notifique o editor de que você gostaria de apresentar imagens para aquele texto e deixe que ele escolha. Você não está ajudando o editor ao enviar o seu maravilhoso livro ilustrado e diagramado “pronto” para publicação, você está enviando um recado alto e claro de que você é um desses escritores chatos que debatem cada escolha do editor, esquecendo que ele não ganha tanto assim para te aguentar. É lógico que existem exceções. Conheço textos que foram escritos a partir de imagens, mas são casos muito específicos e merecem uma cartinha explanatória ao editor.
Você é o famoso quem?
O que me leva a outro ponto. A famosa cartinha de apresentação. “Prezado conselho editorial...”. A coisa funciona como uma carta a outra pessoa qualquer. Não finja uma intimidade que você não tem e nem use um formalismo excessivo como se estivesse se dirigindo ao Papa. Conheço autores premiados que gelam frente à cartinha de apresentação, mas não entendo o mistério. Se você conhece o editor, envie diretamente. Se você não conhece ou não tem uma apresentação (“prezado Editor Fulano de Tal, sou primo do Zezinho de Mogi, seu vizinho...”), envie direto ao conselho editorial. A carta deve conter 2 parágrafos: no primeiro você escreve um resumo do livro e no segundo um sobre você, coisa não mais que 6, 7 linhas em cada. Assine com uma forma de contato, de preferência dando opção entre telefone, celular e email. Lembre-se de colocar endereço de correspondência também.
Saber esperar
A demora das editoras em responder depende muito mais da quantidade de originais a serem avaliados do que de quem você é ou deixa de ser. Então, editoras menores tendem a ter uma resposta mais rápida do que as maiores, mas isso não é regra. Depende da época do ano (editoras com linhas didáticas estão naturalmente atoladas em janeiro, por exemplo), da quantidade de leitores disponíveis e de mais um monte de outras variáveis que muitas vezes nem o editor sabe, que dirá o autor. Eu sei que é horrível essa espera, mas não tem como ser diferente, afinal, você quer que o seu texto seja lido, não quer?
Outra dúvida que surge muito é sobre enviar simultaneamente para várias editoras. Brigas por originais acontecem nas feiras literárias mas é briga de cachorro grande. Aqui tem uma “regra de boa etiqueta” não-dita, não-escrita, não-declarada mas que todo mundo sabe que diz que para livros infanto-juvenis você pode enviar para um monte de editoras ao mesmo tempo e que literatura ficcional adulta não. Os livros técnicos tem tão pouca opção que aconselho a esperar a resposta de um antes de enviar para outro. Esse povo todo se conhece e a última coisa que você quer é ter dois editores aceitando o seu livro e você tendo de, necessariamente, se queimar com um. O seu relacionamento com o mercado não é determinante de publicação mas conta.
Envie email, comente, pergunte, o seu contato é muito bem-vindo!