Sofro da “próxima coisa” há aproximadamente 41 anos. Em um exercício de memória bem fantasioso dá até para arriscar a cena: em uma corrida alucinada deixo vários competidores para trás e, de repente, sou invadido por uma estranha sensação, misto de triunfo e final de sorriso de uma boa piada: “...ai, ai...arf...arf...Ok, rompemos a barreira do óvulo, e agora, o que vem?” Não confunda com talento empreendedor, força de vontade ou perseverança. Comecei este artigo com um verbo tão carregado de significados não foi à toa. Viver nos dissabores da “próxima coisa” não é uma tarefa fácil e tão pouco tem benefícios no médio e longo prazo. É uma escravidão de ventre livre. A “próxima coisa” é, em si, uma supernova achando-se buraco-negro. Menos real do que é e, assim, mais poderosa do que imagina. E me leva.No campo profissional, este que parece ser um resumo forçado daquilo que gosto de fazer para viver, a “próxima coisa” se manifesta em um eterno pesquisar, em um olhar atento e no prazer da descoberta. Sábio são os árabes que nos contam com o peso dos anos vividos no deserto que “se o prazer perdura, termina o prazer”. Isso porque ao descobrir uma nova tendência, um novo jeito de trabalhar, um novo filme, site ou banda que seja; e ao experimentar os primeiros movimentos de sua manifestação (seja artística ou processual), ela bate na porta, a “próxima coisa”, cobrando, delicadamente no início e com pancadas mastodônticas logo em seguida: “E aí, o que vem depois?” Por conta dela às vezes, não resolvo, postergo, Não leio, scaneio. Não amo, apenas aceito. A “próxima coisa” é, em si, uma supernova achando-se buraco-negro. Menos real do que é e, assim, mais poderosa do que imagina. E me leva. Com os primeiros segundos desta maturidade antecipada, fiquei outro dia imaginando que este sentimento deve até mesmo respingar nos que me rodeiam. “Mas você não disse que isso aqui era bom?”. “Que nada, agora o lance é esse outro aqui”. Pois é, quem convive comigo já ouviu isso várias e várias vezes e, só hoje, entendo a desolada expressão do rosto, o desentendimento de minha inconstância, objetividade extrema e fome de novidade. Sei, claro, que a “próxima coisa” tem data certa para acabar. Infelizmente ela coincide com eventos nada prazeirosos de minha existência :), a saber o seu final, ali pelos 120 anos. Até, lá, inaugurando a categoria de “cura autoimune”, ela segue me levando para frente, mas não para cima. Para fora e não para dentro. E você, qual será o próximo comentário que vai fazer? == Artigo originalmente publicado em meu site pessoal, o mauroamaral.com