Voltei várias vezes durante minha vida adulta à sombra dessa mangueira para pensar. Ela fica na casa dos meus pais e, a propósito, gosto de dizer que é minha. Tomei posse aos 6 anos quando resolvi “fugir de casa”, o que significava sentar ali debaixo e comer meia dúzia de bananas após um castigo bobo.
Esse é o meu retorno, pois trata-se de um ponto focal importante em minha existência, até hoje. Ali foram realizados almoços comemorativos, sorteados amigos-ocultos, inventados mundos e destruídas bases de comandos em ação. Ali foi pranteado o ente mais querido, quando se despediu do planeta, os filhos e netos deram os primeiros passos e casais, os últimos. Ali também foram decididas coisas fundamentais da vida, pois, é uma esfera da existência onde tudo sempre parece ser mais simples. Largar um emprego, começar outro, mudar uma estratégia pessoal, casar. Volto várias vezes por mês a essa casa e a esse pequeno pedaço do mundo, descalço e despido de pensamentos mais racionais, apenas para ver que a mangueira renasceu diversas vezes nesses quase 100 anos (a casa é nos anos 50, comprada pelos meus pais nos anos 70 e a mangueira já estava ali...), dando frutos. Não se enganem, voltar para mim é sempre um ponto de partida. E costuma dar frutos. E para vocês?