O profissionalzinho não sai tarde da cama. O profissionalzinho pega sempre a mesma condução. O profissionalzinho se formou cedo na escola. E da escola caiu na graduação. Percebo uma tendência no mercado, sobretudo nos recém-sempre-formando, que se refere à pasteurização geral das expectativas e talentos. Ao interagir com diversos tipos de profissionais já vi estagiário afirmar que teve aula de Photoshop para aprender a fazer aqueles anúncios com a embalagem do produto pequeninho no rodapé de página, outros, postulantes a profissionais de internet, catando a última moda, o último assunto que gerou artigos para se especializarem nele. Mesmo sabendo que, três meses depois, estariam novamente à cata do próximo assunto da moda; gente mais tarimbada topando reiniciar como júnior, júnior botando banca de senior porque fez um MBA de porta de botequim. E todos eles, assim, profissionalzinhos. O profissionalzinho respeita os mais sérios. O profissionalzinho não bate na irmãzinha. Chefinho protege o profissionalzinho. E leva em reunião sempre, sempre à tardinha. Fica aí o alento a quem, como eu, nasceu meio raciocinante, questionante, porém não replicante: evite ser profissionalzinho. Acredite, acontece nas melhores famílias e, com certeza, um amigo seu aí ao lado, mesmo partilhando de boas idéias e ideais, um dia, pode virar um. Aliás, até eu mesmo e você, todo prosa lendo e concordando, já tivemos nossos momentos profissionalzinho. Se passou, ok, não comentaremos mais. Se você se sentiu bem no papel...calma. Pra tudo tem cura. Por isso eu peço a todos os coleguinhas. Prestem atenção no conselho que vou dar.
  • Duvide do que vier pronto. Procure você mesmo refazer ou questionar a maneira como aquela idéia foi desenvolvida.
  • Se concordar, ainda assim, contribua com sua pequena parte.
  • Cuidado com todos que se escondem por trás de artimanhas linguísticas, gerúndios impróprios e quetais. Aqueles que vão estar agendando uma reunião, provavelmente, têm o poder de inocular em você aquela estranha maneira de falar e pensar. Se fosse um Eterno Retorno, tudo bem, gente muito inteligente já falou sobre isso, mas o tipo de linguagem é um eterno vou estar chegando. Vou estar devendo. Nego e não pago. Enquanto estarei podendo.
  • Se um dia, de frente para o micro, você se sentir no final da estrada, e uma estranha preguiça mental o invadir suas mãos, seu mousepad e o celular, desligue tudo e vá visitar alguém muito próximo que, por essas e outras, poucas e boas, muitas e más, você deixou ficar distante.
  • Essa é tiro e queda: hora do almoço. O que você faz? a) almoça; b) almoça e volta; c) vai conhecer um novo restaurante da moda que tem sushi que você destesta e o chefe adora; d) vai papear com os amigos; e) depois eu respondo que fiquei aqui terminando a apresentação do chefe. Se você respondeu letra a, b, c, d ou e, está certinho do caminho do profissionalzinho e já tem sintomas clássicos, com por exemplo, fazer testes.
A lista poderia continuar, afinal, ela cresce quando o bom-senso diminui. Como eu acredito que todos aqui o tem de sobra, fica só o aviso. Profissionalzinho não faz xixi na cama e nem malcriação. Mas nem por isso é gente boa, não. carequinha.jpgO Palhaço Carequinha (a.k.a George Savalla Gomes) que nos deixou mês passado, costumava cantar a canção que parodiei (em negrito) para as crianças mal-criadas da década de 60, 70, 80 e 90. Gente pra caramba. O carequinha aqui (a.k.a. Mauro Amaral), resolveu fazer uma rápida versão, numa tarde que ficou em casa devido à uma leve indisposição, para lembrar a todos os seus leitores que mesmo lutando muito, diferenciando-se muito, acreditando muito; às vezes é muito pouco. Vejo vocês no espelho.