cortarpalavras   Dia desses, escrevi o texto com o qual participo, periodicamente, de uma revista americana. A instrução que recebi da editora, quanto ao formato, pedia 500 palavras. Jornalistas e publicitários, diferente do que acontece com poetas e escritores, convivem com isso. Trabalhando como redator, numa agência de propaganda, cheguei a dispor de 12 longos segundos [se-gun-dos] para dar instruções práticas sobre uma promoção, num comercial de TV. Se estivesse escrevendo o texto para um outdoor, seria convidado a não ir além de sete palavras. São as regras do jogo. Finda a primeira versão do trabalho para a revista, descobri que ele havia ultrapassado o limite: 517. Então me veio a pergunta, inevitável: afinal, o que significam 17 palavras a mais? Aparentemente, nada. No entanto, esse pequeno conjunto de expressões tem um poder que não se recomenda subestimar. Uma das frases mais sérias e comprometedoras de que se tem notícia não passa desse limite: “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.” Se colocada em prática, esta proposta de vida dispensaria o trabalho de todas as leis que procuramregular, nem sempre com sucesso, a nossa vida de todo santo dia. O raciocínio dispensa legenda. Quem ama a Deus sobre todas as coisas se submete inteiramente a ele, reservando-lhe tempo para encontros indispensáveis. Honra seus pais. Não mata. Não peca contra a castidade. Não rouba. Não levanta falso testemunho. Não deseja a mulher do próximo. Não cobiça as coisas alheias. Nem mesmo organiza mensalões e petrolões. Enfim, a sociedade perfeita, sob a batuta de apenas uma frase, que nem é tão extensa, mas suficiente. Que tal você, leitor, fazer uma pequena experiência, tão lúdica quanto reveladora? Faça uma lista de dez palavras, as primeiras que lhe vierem à cabeça. Em seguida, “costure-as” entre si para formar frases com diferentes sentidos, o maior número que puder. Faça uma lista de dez palavras, as primeiras que lhe vierem à cabeça. Em seguida, “costure-as”O maior número que puder?! Com essa lista insignificante de palavras?! - talvez você se pergunte. Então me deixe fazer uma observação: certamente, as mensagens com maior poder de causar impacto, estabelecer uma comunicação eficiente e gerar resultados são as mais curtas, isto é, construídas com o menor número de palavras. Sinta a diferença: “Andrezinho, vá dormir, amanhã você tem de levantar cedo pra ir à escola, aí é uma luta, você não acorda, eu fico bravo, tenho de tirar você da cama na marra, você sabe como é...” Se a criança estiver com tempo e disposição, ela pode desmontar, uma a uma, cada parte desta frase extensa e provar que nada há de errado em ficar no computador apenas mais duas horinhas. Vamos virar esse jogo? Fácil. “André, já pra cama, amanhã você tem aula.” Ainda mais sintética? “André, cama.” Não por acaso, a lista que você leu aí em cima, com Os Dez Mandamentos, é assim. Vai direto ao ponto. Qualquer um entende quando se diz “Não rouba.” Agora é com você. O exercício de investigar a força das palavras, quando unidas, para mudar comportamentos, é surpreendente. Além de muito saboroso