Tenho ouvido muito esta frase ultimamente. “Mauro, isso é só o seu trabalho”, é quase como um mantra que disparam quando percebem que estou preocupado demais, pensativo demais ou concentrado demais em desafios que para quem está de fora, são como os moinhos de Dom Quixote. Existe ainda uma variante, proferida em momentos em que deixo transparecer que não estou satisfeito com o estado atual das coisas: “O trabalho é só esse mesmo”, me dizem. Como se bastasse isso para me contentar com o fazer repetitivo de fórmulas nas quais temo em não acreditar. DomQuixote

Mas eu discordo

Não é só o meu trabalho quando busco maneiras de fazer melhor, em menos tempo e de forma mais palatável aquilo que me propus entregar em meus projetos. É pesquisa constante, que requer metodologia de captação de informações, sua catalogação e transformação. Não é só meu trabalho quando a administração de contratos, deveres, impostos e demais burocracias me engole. Isso é ônus do processo, que requer aprendizado constante de quem, afinal, quer apenas contar boas histórias. Não é só trabalho quando eu vejo claramente que temos muito, mas muito mesmo, a caminhar. É fé em uma empresa real, é fé um caminho pedregoso. Ainda que o startupismo tenha envolvido e enraizado suas promessas em muitos de nós (até em mim mesmo, au, au…), sabemos que o maior anjo somos nós mesmos. E a vitória conquistada vai sempre valer mais do que aquela que for emprestada em troca de algumas fatias de seu projeto. Não é só o meu trabalho quando insisto em manter vivo o projeto Carreirasolo.org, que de tempos em tempos já pensei em descontinuar, pois sei que ainda falta uma última missão sobre a qual ainda não consegui reunir tempo e esforço para dar cabo. Não é só o meu trabalho quando encontro, treino, capacito e deixo prontos para a vida profissionais de origens tão diferentes, com talentos tão diversos e com limitações tão preocupantes. É vontade de deixar uma marca, por menor que seja, em minha trajetória neste mercado tão volátil. Enfim, não é só o meu trabalho pois as atividades produtiva e criativa, no meu modo de ver, não estão dissociadas. Antes, a paixão por criar boas histórias foi a motivadora de “n” soluções estruturais que já foram uma cadeira em uma grande agência, em uma estatal e na minha própria, com a roda quebrada, mas ainda funcional. Isso não é só o meu trabalho. É uma forma transcendente de criar uma narrativa de vida. Se paga as contas, as minhas e a de quem trabalha para mim, são outros quinhentos. Serão mil ou milhões? No fundo, e para quem já sacou que isso não é só o seu trabalho, é irrelevante.