Turma

Tente imaginar um mundo sem Facebook, Twitter, Instagram, Snapchat... ou ainda: imagine que nem o Orkut (lembra dele?) tivesse existido. Você considera viável esta realidade? Pois saiba que tem uma turma no Chile que acredita ser possível que sua vida seja melhor com uma maior dose de contato e interação presencial. E leva isso para o mundo do empreendedorismo.É a Exosphere, o primeiro Bootcamp Internacional de Empreendedorismo da América Latina.

Estamos falando de um projeto educacional único, focado na formação de empreendedores, no qual o formato de educação e aprendizagem é descentralizado. Durante as doze semanas do Bootcamp, pessoas de diferentes nacionalidades, idades, conhecimento e fases de vida devem entrar em contato com a filosofia do estilo de vida empreendedor com um objetivo único de descobrir quais são as suas paixões, para então, se preparar com conteúdo básico e multidisciplinar para trabalhar em projetos para formação de startups.

Para melhor entender o formato da Exosphere, seu fundador, Skinner Layne explica seu insight:
Nós vemos que a maior parte de sofrimento das pessoas é derivado de trabalhos que elas têm, que não estão alinhados com seus interesses de vida e também de relações interpessoais insatisfatórias. Através do empreendedorismo nós podemos solucionar o primeiro problema, e através da comunidade nós podemos resolver o segundo.
A primeira turma de Exosphere contou com vinte e cinco participantes de mais de dez países diferentes, com idades variando de dezenove a cinquenta e seis anos. São desde jovens que largaram o ensino tradicional para entrar na vida empreendedora, passando empreendedores com anos de experiência que venderam sua participação em sua última sociedade e hoje buscam novas paixões. A turma contou até com um professor com PhD que decidiu traçar um novo caminho para sua vida. As primeiras semanas são as mais intensas, carregadas de discussões sobre comunidade, anti-fragilidade, dor e cultura do fracasso, que é o tipo de coisa que não se escuta e nem se estuda no Brasil. Esses conceitos fazem toda a diferença para quem está entrando nesse mundo. Eu empreendo há oito anos, depois de largar o curso de engenharia na Unicamp para seguir meus sonhos. Muito do que aprendi nessa jornada foi na raça, foi vivendo e apanhando e o custo pessoal disso foi alto. Se eu tivesse entrado em contato com esse tipo de ambiente e com esse suporte da comunidade e de mentores, tudo poderia ter sido diferente, menos doloroso, mais programado e o desperdício de dinheiro seria muito menor. A grande diferença da Exosphere em relação a outras iniciativas do gênero é o foco: o objetivo deles não é somente o conhecimento teórico. A visão deles é focada 100% nos participantes, nas pessoas. A partir de suas atitudes práticas, da saída das suas zonas de conforto. Do fazer acontecer que é, enfim, extremamente importante na construção e nas descobertas internas do empreendedor.

O modelo nacional

Quando comparamos um modelo desses ao modelo educacional hoje, relacionado a trabalho em equipe, é possível observar que existem diversas diferenças. No modelo tradicional, não existe fracasso real, pois a pessoas têm muitas vezes seu primeiro contato de trabalho em equipe em um ambiente controlado, ninguém tem pele no jogo - o projeto vai mal, a nota é baixa, as amizades continuam e o mundo segue seu caminho. Na vida real do empreendedor, as coisas são diferentes. Você não consegue ter acesso a todas as variáveis, sua vida pessoal entra na equação e se as coisas não caminharem como o planejado, o problema chegar e a equipe não se conhecer e os interesses não estiverem alinhados, o elo se quebra facilmente Se não estiver preparado, o fracasso pode consumir você e tudo a sua volta.  Relações de anos são destruídas, pessoas se machucam e o pior de tudo: o mercado não liga, já tem alguém em seu lugar oferecendo o mesmo serviço. A grande diferença é que na escola o negócio é tratado de uma forma virtual - com sete você passa - no mercado a luta é sangrenta e é na lama. Se você tem um sete, vai ter que torcer muito pra ninguém ter um oito - se você não oferece naquele momento VERDADE e VALOR, e se você não está preparado psicologicamente para a pressão e para lutar anos por aquilo e sempre melhorar, se reinventar, você está fora. Segundo Carlos Micelli, CEO e Co-Fundador da Exosphere :
O propósito da educação é orientar o potencial. Não existe uma solução para isso. O objetivo não deveria ser “solucionar” o problema da educação, mas prover opções e melhorar as formas que essas opções são acessadas, para todos poderem aprender da forma que preferem e não como o sistema impõe. A revolução educacional vai acontecer quando, graças a abordagem prática do empreendedorismo, artes e ciências, as pessoas aprenderem através da curiosidade e da busca de suas vocações.
Os resultados durante o Bootcamp foram visíveis e mensuráveis. Eu vi pessoas chegarem lá sem nenhuma base de programação e após semanas do workshop de programação, estavam montando uma página pessoal com programação 100% própria. E até mesmo grupos e indivíduos já montando até seus MVP. Participantes que morriam de medo de vender, hoje já conseguem ir na rua oferecer seus produtos ou fazer ligações para juntar dados para validação de mercado. Isso poderia ser até possível com aulas online, mas não na mesma velocidade. O ganho que você tem quando está inserido com um ambiente como esses, junto a grupo de pessoas com os mesmos ideais é enorme. Como o grupo é diverso e o contato diário durante um trimestre, existe uma alta troca de conhecimento técnico e cultural entre os participantes. Os ganhos vão muito além do conteúdo, eles atingem a esfera pessoal e social. [caption id="attachment_16354" align="aligncenter" width="608"]Arduino Foco no auto-conhecimento, mas sem abrir mão de lições práticas. Acima, a galera do Arduino![/caption] Durante esses três meses em nossa turma, tive contato com programadores muito talentosos que tinham dificuldades em trabalhar em equipe e hoje eles já estão inseridos em times atacando novos projetos. Participantes que morriam de medo de vender, hoje já conseguem ir na rua oferecer seus produtos ou fazer ligações para juntar dados para validação de mercado. Essas pequenas atitudes quebram os preconceitos dentro das pessoas e criam um sentimento que é simples, mas muito poderoso: EU POSSO!

O desafio

O grande desafio da Exosphere é de atingir pessoas em toda a América Latina para que seu talento seja aproveitado através do empreendedorismo. Segundo Skinner, a Exosphere foi criada “para que eles escapem da vida burocrática acadêmica e de seus escritórios, perseguindo uma vocação como parte de equipes empreendedoras, desenvolvendo tecnologias que vão mudar e melhorar a forma como as pessoas trabalham e vivem - tecnologias que enriquecem a experiência humana, em vez de empobrecê-la.”

A filosofia da iniciativa, montar uma comunidade para suporte conjunto e de longo prazo, está mostrando ser bem sucedida. Após o término de nosso Bootcamp, tivemos pessoas que se uniram e se mudaram para Medellin na Colômbia. A equipe que formei durante o Bootcamp, composta por diversas nacionalidades, continua atacando projetos em conjunto. Devemos, inclusive, nos reunir no Chile novamente por algumas semanas. Vejo que, independente da localização, a comunidade criada lá no final do ano passado continua a existir e todos continuam ajudando uns aos outros com o mesmo nível de camaradagem, seja com conhecimento, com network, com feedback de seu projeto, com uma indicação, ou mesmo, como um ombro amigo para conversar nas horas de alegrias e tristezas. Agora em Março, está iniciando a segunda turma. Para ficar por dentro do programa e de como participar, é só clicar na imagem acima. Eu mal posso esperar para ver o que eles devem criar por lá e como essa adição de mais quarenta pessoas em nossa comunidade deverá afetar positivamente o andamento do projeto de cada um.