Sem medo de parecer repetitivo, segue mais uma reflexão iniciada quando estava sentado em uma sala de reunião, à espera do início da apresentação que faria sobre os trabalhos da contemconteudo.com. E ela não tem nada a ver, diretamente, sobre o futuro de sua carreira. Hoje o papo é mais “de raiz”. Vamos falar sobre a força dos seus braços. Pois estava eu sentado de frente para um litoral lindo, embora o dia fosse outonal, quando percebi dois operários em um prédio da frente. Eles desafiavam o perigo. Sem capacete, sem cintas de segurança, sem redes, oscilavam cada um em sua cadeira. Ao sabor do vento subiam e desciam pelo costão de concreto que pintavam apenas com o auxílio de uma improvisada roldana que eles mesmos operavam. Girando para frente, seus braços os fazia subir, carregando seu próprio peso, assim como o da máquina. Girando para trás, desciam, para retocar um “aqui e ali” da pintura. pintor suspenso Percebam que a permanência em sua atividade e até mesmo nesse planeta, dependia menos da qualidade do seu trabalho e mais da força e coordenação de seus braços. A máquina, pouco confiável. A qualidade do trabalho, invisível, já que estávamos falando de uma parede de costas para a rua que, muito dificilmente, um “encarregado” checaria. Nada mais valia (assim como nada tão mais-valia), apenas a força das mãos e músculos para fazer subir ou, ao final, descer. A vida de quem decide criar a própria marca do nada, sem verba ou investidor, que encara qualquer pedreira que venha pela frente, que prospecta ao mesmo tempo que atende é assim. Assim como a de quem se desentende ao mesmo tempo em que elucida ou que vence na mesma intensidade que perde. Dia após dia. Centímetro após centímetro, como a velha fábula da minhoquinha que subia um metro e descia dois. A grande conexão que conseguimos fazer em um momento como esse tem estreita relação com a forma pela qual guiamos nossos esforços. Ou você é reconhecido como um excelente pintor de paredes, ou pelo louco que topa se equilibrar em uma cadeirinha. Qual dois dois você prefere ser?