No exato momento em que comecei a escrever este post, estava em uma sala de reunião de um futuro parceiro de negócios, desses que a gente conhece por intermédio de um network trabalhado nos últimos 15 anos. Enquanto esperava, olhei para o lado: estava lá o iPad com a apresentação da minha empresa, alguns slides criados com cuidado para me ajudar a convencer este parceiro em particular e clientes em geral e contratarem os nossos serviços. Se você ainda não sabe, eu conto, minha empresa faz curadoria e produção de conteúdo para marcas e agências. O sucesso vai chegar, tenho certeza. Mas o momento é apenas de muito trabalho e incessantes contatos comerciais. Mas não foi por isso que reservei este espaço aqui. A razão deste post mais longo do que o normal foi a cor da capinha do iPad. Preta. Bastou olhar para essa forma retangular e essa cor específica para, como um personagem de Julio Verne, ser jogado de volta ao tempo, sentado, parado, enquanto toda uma vida passava, em reverso, bem na minha frente.

Falo das pastinhas pretas.

De repente, fui jogado para 1995 e montava com muita cola bastão e faca olfa, minha primeira peça. Era estagiário em uma agência tão pequena que existe até hoje fazendo a mesma coisa e, claro, achava aquilo ali muito estranho. Na minha interpretação, a única maneira de conseguir quebrar o paradigma de então era montar um porffólio muito criativo e apresentá-lo nas agências de propaganda cariocas. A peça era curiosa, uma espécie de minigraphic novel, confeccionado inteiramente com colagens e sobreposição de material digitalizado. Do tamanho de um CD. Mais ou menos na mesma proporção do mercado da época, que vivia em meio a uma das crises de crédito do período e ainda amargava a fuga de contas e profissionais para São Paulo. Mais curioso ainda era o objetivo final do esforço: vender dois e não um profissional. Sim, profissionais. Não sei porque, a peça vendia o conceito de uma dupla criativa e não apenas o meu trabalho de redator ou o talento do diretor de arte. “Contrate um pacote”, era a promessa comercial tácita. Difícil, né? [caption id="attachment_16279" align="alignnone" width="640"]mirror_gordo Antes de sair à rua, arrume-se dentro de casa. Ou dentro de si mesmo.[/caption]

Calma que tem mais.

Enviávamos o material por correio ou o deixávamos diretamente nas recepções das agências e, exatamente uma semana depois, ligávamos para fazer um Follow Up. Invariavelmente… pediam para ligarmos depois. O mais engraçado é que como profissionais em início de carreira, acreditávamos. Esperança é realmente um artigo com data de validade. Material complexo, objetivo fora de foco, técnica de distribuição infantil foram algumas das expressões que me vieram à cabeça para classificar o esforço da distante década de 90. Nos entendemos maiores do que nossos objetivos profissionais, nos entendemos melhores do que nossa pouca experiência profissional permite. Isso quando nos entendemos.Claro, com a experiência de hoje, enquanto espero a hora de começar o meu show com roteiro e curva dramática milimetricamente ensaiados; faz todo sentido criticar. Até por ter sido o primeiro. Mas, então qual é a diferença crucial entre os dois momentos? Eu digo: a essência. É comum no começo de qualquer profissão seguirmos inebriados por possibilidades futuras. O potencial que nós mesmos somos, nos leva a uma miopia completa. Nos entendemos maiores do que nossos objetivos profissionais, nos entendemos melhores do que nossa pouca experiência profissional permite. Isso quando nos entendemos. Na época eu me entendia muito pouco. Mirava em uma carreira de redator publicitário, preso a títulos, anúncios de página dupla, spots de rádio e roteiros da TV. Só bem mais tarde iria descobrir que minha essência é outra, até mais rica: contar histórias. Antes, a pecinha de divulgação carregava uma indecisão. Hoje, ela carrega minha essência. E como eu torço para que você, possível leitor, tenha entendido desde o início a procurar primeiro a sua essência para, uma vez encontrada, e só então, divulgá-la como a boa-nova de sua própria missão. Preencha sua pasta com a sua essência, fale de sua verdade e, assim, sua vaga chegará, senão mais rapidamente, no melhor momento e no lugar ideal. Funcionou comigo.