A arte de Gerhard Richter não segue uma intenção, um sistema, um estilo, ou uma mensagem. O que a rege é uma ética artística de prática cotidiana, relacionada somente às condições representadas por ela mesma. Richter utiliza motivos variados, estilos e citações da história da arte, porém, seu único e grande tema, em última análise, é a pintura. Suas peças ora são puras, sobre a tela, ora misturadas a fotografias e recortes de jornal. Em alguns casos, como em obras presentes nesta mostra, ele primeiro reproduz a fotografia em pintura, e, depois, volta ao modelo original, fotografando seu trabalho, sem que se percam as características da obra produzida à mão.” (PINACOTECA, 2011*)A seleção das obras de Richter na Pinacoteca incluiu óleos abstratos de grande porte (mais recentes), fotografias, impressões e as pinturas sobre fotografias. A exposição foi realmente uma “sinopse” mas infelizmente com alguns problemas. O primeiro e mais óbvio deles é o tamanho em si da mostra que, com apenas 27 obras, não consegue representar a amplitude deste artista. Outra questão que muito me incomodou foi a expografia, que traduziu indiscriminadamente para “impressão digital” técnicas tão diferentes como cibachrome e offset. Apesar de concordar que Gerhard Richter dispensa apresentações, pareceu-me faltar uma explicação maior para o público leigo sobre as várias fases da obra do artista presentes na exposição: era necessário conhecer algo do artista para compreender a sequência e a seleção da exposição. Mesmo com a presença marcante de Betty, a obra que mais me impactou foi Hood, de 1996.
Hood é uma impressão offset de uma pintura sobre uma fotografia originalmente publicada no jornal Frankfurter Allgemeine Zeitung e de autoria da agência de notícias DPA (Deutsche Presse Agentur). A fotografia foi pintada e depois refotografada e impressa em offset. A reprodução desta exposição tem 44 cm x 43.7 cm e, de acordo com o site oficial do artista**, é uma impressão sobre papel artesanal japonês.
A obra mostra uma pessoa sendo conduzida, com as mãos atrás do corpo. Aparenta ser uma cena do noticiário policial. De acordo com a leitura ocidental, da esquerda para a direita, Richter pinta o “antes” da imagem. A pincelada, que claramente começa à direita, permite a leitura do gestual do artista, pontuando como início a ação, o conduzir da pessoa com o casaco de capuz, que dá título ao quadro. Apesar de não ter encontrado referência bibliográfica específica sobre esta obra, o meu entendimento é o do apagar do passado – quase como em Brecht (apaguem os vestígios!) – retirando qualquer possibilidade narrativa da imagem e, ao mesmo tempo, fornecendo outra. Notas: * PINACOTECA. Gerhard Richter: Sinopse. Informativo da exposição. Disponível em http://www.pinacoteca.org.br/pinacoteca-pt/default.aspx?c=1114 ** http://www.gerhard-richter.com/art/search/detail.php?12780