Como para provar a si mesmos artigos, vez por outra, se auto-escrevem. Este aqui resolveu mudar seu tom, mas não de assunto, de forma a provar, de uma vez por todas que existem alguns pontos nos quais precisamos agir com reflexão em vez de reflexo. Vejam vocês que estava pronto para falar sobre a polêmia dos RSS que o Alexandre do Blog de Arquitetura de Informação gerou, desde que a coisa estourou, neste post aqui quando, ao começar a ler os meus (RSS), acabei reparando que a questão era outra que não àquelas que as pessoas acabaram levantando. E resolvi esperar. Guardar tudo num barril de carvalho e esperar. Resultado. Parece que o medo/curiosidade ao redor do destino da comunidade blogueira disparou uma série de artigos que discutiram coisas pra lá de interessantes, que vão desde as características intrínsecas da Really Simple Sindication, até a monetização do conteúdo, caracterização do ambiente blogueiro ( afina, é ou não é um Marketplace?). As questões são válidas, mas são apenas reflexos. Entendam: não reflexos vítreos, mas reflexos motores. Reações involuntárias, espasmos. Dizer que Sim, o Alexandre estava certo, ou não, o Alexandre é um escroque e eu nunca mais volto lá, é uma ação de nosso sistema nervoso simpático e parasimpático, aqueles mesmos que não deixam seu coração parar. Quando, na verdade, tínhamos que nos concentrar no que nos conta o nosso Sistema Nervoso Central, esse sim, chegado a uma análise de coisas, fatos e fatores. E refletindo, num devagar de nosso tempo (uma semana), penso o seguinte. As técnicas de Sindicalização de Conteúdo (bloglines, feedemon, atom, RSS etc) são fruto de uma época sem tempo. “Matamos o tempo mas é ele que nos enterra”, como diria o Machado. Queremos ler mais, sempre mais e temos tempo algum. Portanto, seu principal valor percebido é agregar, em uma única plataforma, quanto sites você quiser, categorizá-los, organizá-los e dar a ordem de leitura que você preferir. Brincando de neologista: é uma atualização-sob-demanda. Os agregadores mais avançados conseguem, inclusive, guardar como “sempre novos” os assuntos que você quer manter como referência ou, ainda, criar um “mini-procurador” que vasculha, a cada atualização, palavras-chave previamente cadastradas, nos conteúdo que acabaram de chegar. Enfim, nem vou entrar no mérito e no impacto que isso causa para os Usabilidoidos de plantão, mas, estão aí. É uma nova maneira de interagir com conteúdo, tanto em sua leitura quanto produção; com o tempo, com atualização, fidelidade, velocidade de pesquisa. E estavam todos felizes assim. Até que... bem... algumas empresas começaram a veicular anúncios pelos agregadores... Rapaz, todo mundo gritou. “Violados! Fomos violados! Profanaram nosso tempo digital...como oferecermos holocaustos agora?” Reflexos e mais reflexos. O artigo começa com um desabafo, um desalento: “No online medium is safe form advertising anymore” Será que esta postura consegue sobreviver a uma reflexão? Ou seja: pensando um pouco mais, era para os agregadores ficarem livres de BOA propaganda? Porque o conteúdo não pode ser monetizado? O que há de mal em lermos anúncios que sejam relativos ao conteúdo que está sendo consumido? Aliás, consumido. No meu entender, propaganda TAMBÉM é conteúdo e, portanto, passível de ser agregada pelo leitor de RSS. Não se discute ética quando o assunto é diversão. E, sob um ponto de vista puramente estético, Internet e o consumo de informação no início do século XXI é diversão. É super-espetáculo. Portanto, uma plataforma de conteúdo lê o conteúdo de sua época. As paredes de Roma “liam” pixações contra o Império; as livrarias e cafés em 1968, “liam”, a filosofia de seu tempo, que implantaria uma nova sociedade; os agregadores do século XXI lêem a necessidade de se vender e consumir desde câmeras digitais até artigos sobre independência profissional. Um editor de um Blog pode e deve ter total liberdade para associar seu conteúdo à intervenções publicitárias. Discutir o que é bom ou ruim, é um papo fora de contexto. O direito existe. O dever de ler, não. Alguém que tem um blog somente para se sentir lido, bom, não vai durar muito tempo mesmo. Num recente artigo do Read/Write Web temos interessantes questões neste sentido que podem ser complementadas por este outro aqui, do Kottke.org. Ah, claro, o Asterisk ainda levanta outras e mais outras, aqui. Enfim, retornando ao início, os artigos às vezes gostam de se escrever sozinhos. Este aqui era para falar de RSS, falou de reflexão num mundo de reflexos. E de como a Internet tem esta capacidade de estimular o irrefletido nas pessoas. Faz lembrar outro dia que recebi um e-mail de uma leitora que pedia uma ajuda-para-divulgar-seu-trabalho-porque-achou-ótimo-o-site-e-gostaria-de- dizer-que-se-formou-já-há-algum-tempo-e-pediu-desculpas-pois-não-sabia meu-nome-e-não-achou-o-link-para-a-home-me-responde-tá? Tudo assim, sem respirar. Amigos, vamos desacelerar, vamos pensar um pouco mais, suar um pouco menos. E, os comentários, deixo para vocês.