[ratings] slumdog_millionaire_posterSurpresa, espanto, dúvida, assombro. Emoções que percorreram a última entrega do Oscar, que aqui caiu num domingo de carnaval, quando o bicho-papão da noite foi o bollywood movie Slumdog Millionaire. A possibilidade de leituras que esse momento nos traz, vão além do cinema. Tomemos, por exemplo, a produção da festa, notadamente menos dispendiosa que em anos anteriores. Teriam os produtores da academia sido pegos pela crise? Claro que não. O fato é que, com alguns descontos, a indústria do cinema, que tradicionalmente nos vende ilusões paleativas há mais de 100 anos, tem seu pezinho ali na realidade. E se a realidade da vez é uma crise (real, sem dúvida), porque não embarcar no tema? Podemos dizer: o tema da entrega do Oscar esse ano foi a crise. E isso acabou se refletindo na premiação de Slumdog Millionaire.

Uma cidade de milhares de deuses

Que aliás tem um roteiro que você já viu: menino de favela se vira aqui e ali e tem um grande amor e um irmão que por sua vez escolheu o lado mais rápido para alcançar alguma posição na vida, o crime. Mas nosso herói é batalhador e tem lá seus talentos. O máximo que se permite é ser um “malandro do bem” enganando aqui e ali turistas que visitam sua cidade natal. Tudo isso filmado e mini flash backs indo e vindo entre o momento de ruptura do roteiro, uma espécie de “Show do Milhão” e a infância pobre. Troque Jacarepaguá por Bombaim e você tem, em vez de Cidade de Deus, o ganhador do Oscar de melhor filme. E é aí que a vitória de Slumdog Millionaire traz sua leitura mais interessante. É para mim o sussurro de uma indústria: “Nós tememos os seus call centers que tentam nos enganar que nos atendem do bairro ao lado; tememos sua capacidade de remexer e reiventar nossos programas de TV e nosso estilo de vida; tememos até nos tornarmos no futuro o que vocês são hoje, numa insuspeita – mas não impossível-, troca de papéis entre nossas nações”. Em outras épocas bastaria fagocitar essa avalanche de avanços na Índia, Brasil, China e Russia para, através dessa própria indústria cultural, perpetuar ciclos de dominação. Será essa a alternativa correta agora?