Todo mundo que não é sobrinho do Roberto Marinho
A questão é que não adianta reclamar da necessidade de uma indicação. Ela existe, mas às vezes é muito menos injusta do que parece. E não é exclusividade do Brasil, não. Aqui na Inglaterra, você só é alguém se conhecer vários outros alguéns. E se esses alguéns falarem bem de você.
Fala bem e falem de mim
Outro dia mandei um email me apresentando e me oferecendo para fazer frilas numa revista bacana. E coloquei no texto do email: “fiz o curso tal, inclusive alguns dos meus colegas eram o Joãozinho, o Manoelzinho e a Mariazinha, que estão trabalhando aí.” Na mesma noite fui encontrar um pessoal no pub e o Manoelzinho (nomes fictícios, é claro – todos são inglesíssimos) disparou: “Hoje lá no trabalho estávamos falando de você!”
Ou seja, não adianta somente dizer que conhece, os caras vão lá e perguntam de mim, se eu sou legal, se eu presto, essas coisas. E só depois de debaterem abertamente a minha capacidade (ou incapacidade), é que decidem se vão me dar uma chance ou não.
É por isso que eles gostam tanto de eventos de networking aqui. E a coisa é super estruturada, as pessoas abordam umas às outras, “Oi, eu sou a Fulana, trabalho na empresa Tal, e você?” E o papo segue enquanto os dois lados considerarem interessante trocarem idéias. Aí eles viram para o lado e abordam outra pessoa, nos mesmos termos. Não é amizade, é networking.
Logicamente eu e minha amiga italiana ficamos no canto nesses eventos, tentando pegar o jeito de uma coisa tão formal e conseqüentemente tão estranha para as nossas culturas. Um dia a gente chega lá.
Quem nunca fez networking que atire o primeiro nome
Outra coisa que eles adoram é saber que você estudou numa instituição de renome. Eu sempre aconselho as pessoas a fazer Mestrado em Artesanato em Oxford, ou Doutorado em Ponto de Cruz em Cambridge, se possível. Ninguém se importa se o curso que você fez não é o mais bem conceituado da instituição. Eles adoram nomes.
Inclusive, existe até um nome para isso aqui: “dropping names” Significa despejar em cima do interlocutor os nomes das instituições que você já trabalhou, as pessoas que você conhece, os cursos que você fez (com as devidas universidades, é claro). Eles adoram isso, e abrem um olhão desse tamanho quando você despeja um nome certo.
Pare de reclamar e faça alguma coisa!
Para finalizar, eu queria só explicar o que eu disse no começo do texto que essa história de “quem indica” não é assim tão injusta. Para mim é muito claro que desenvolver uma rede de contatos e indicações tem mérito, e muito.
Conhecer as pessoas, fazer um bom trabalho a ponto de elas te indicarem, ser uma pessoa interessante o suficiente para Fulano ou Beltrano lerem seu blog, seguirem seu twitter ou quererem ser seus amigos não é pouco não. É trabalho duro, e não precisa ter nascido com pistolão para conquistar isso.
É lógico que para alguns é mais fácil (por morar na cidade certa, por ter dinheiro para pagar cursos e viajar, por ter um irmão que já é bam-bam-bam naquela área, essas coisas), mas mesmo sendo mais difícil não há desculpa para se paralisar.
Existem bolsas de estudo aos montes por aí (como a que eu ganhei para fazer meu mestrado), e principalmente, em dias de internet, todo mundo tem acesso a informação e, principamente, acesso uns aos outros.
E com licença que eu vou ali mandar um email, combinar um evento de networking e mandar umas sugestões de pauta para o editor da tal revista não esquecer que eu existo, e já volto.