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Como advogado júnior, posso cobrar pelo estudo do caso?

coruja
Como sei que alguns jovens incautos, lançados à sorte nesta selva do trabalho autônomo, também lêem o Direito & Mercado (e portanto estão antenados com o que há de melhor na blogosfera brasileira -cof cof), darei uma dica que só um advogado de confiança te daria, combinados?

COBRE PELO ESTUDO DO CASO!

Você não sabe o que virá dali!

– Espera aí, Henrique… deixa eu ver se entendi: o cliente chegou à sua porta com um problema, certo?

Certo.

– E ele ainda não sabe se vai te contratar, certo?

Certo.

– E você está me dizendo para cobrar ANTES de “olhar o que tem dentro da caixa”?

Grande, garoto!

– Mas, mas… #mimimi

Calma, pra tudo dá-se um jeito.

Lembram-se quando os ensinei a lidar com clientes malandros? Vamos agora aprender como não perder tempo com os mesmos clientes malandros! 😀

Se você é advogado, ótimo, se não, adapte a historinha para o seu caso, tudo bem?

Vamos lá… você é advogado e foi procurado por um cliente que está com um problema.

Primeira cena

O jovem advogado, comovido pela história do cliente, estuda o caso por alto, para ter uma idéia, afinal, ninguém assinou contrato ainda, certo?… e chega à conclusão de que o caso é viável, mas sem muita certeza.

– Então, Sr. Fulano… o seu caso parece ser complicado, mas acho que há boas chances.

– Sim, mas quais chances, o que te leva a pensar isso?

– Ah, bem… eu fiz uns estudos e vi que há casos favoráveis na jurisprudência ao seu favor, mas precisaria de uma pesquisa mais elaborada para chegar a uma conclusão definitiva…

– Ah, então o que você quer dizer é que você não sabe, certo? Tudo bem, não tem problema… olha… eu te ligo amanhã, tá?

Segunda cena

O jovem advogado, comovido pela história do cliente e sabendo que só um estudo superficial não convenceu o cliente, estuda o caso a fundo, conversa com colegas, liga pra ex-professores, fala com a mãe, conta pro pai, confessa ao padre e… BLAM acha a solução! 😀

Monta um projeto super bacana, cronograma de ação, perspectivas, orçamentos mil e apresenta pro cliente com um sorriso no rosto! “Certeza que ele vai gostar da minha proatividade e do meu interesse pelo caso dele”!

– E então, o que achou?

– Ok, entendi o que você quer fazer, mas eu ainda nem tenho certeza se vou ajuizar a ação… de qualquer forma, muito obrigado viu! Você é um rapaz de ouro, ficou muito bom o seu trabalho!

Terceira cena

O jovem advogado, comovido pela história do cliente, sabendo que só um estudo superficial não convenceu o cliente e percebendo que se entregar o peixe, ninguém contrata a vara,  estuda o caso a fundo, acha a solução, mas… fica esperto na jogada…

– Olá, tudo bem?

– Grande Dr.! E aí, estudou o meu caso?

– Sim, claro! (Sorriso de triunfo)

– Sim? Que ótimo! Chegou a alguma conclusão?

– Mas é claro! (sorriso de muito triunfo combinado com olhar Maverick de quem sabe o que está falando) Tenho uma excelente tese para defendermos!

– Que ótimo!

– Não é?

– É!

– Pois é!

– E então?

– Sim?

– Qual é a tese?

– Ah, sim… mas então, vamos negociar o nosso contrato?

– Como assim? Ainda nem sei qual é a tese!

– Sim, claro… pode confiar em mim, vamos primeiro assinar esse contrato que eu te conto a tese! (Sorriso não tão triunfal assim…)

– Deixa eu entender… você quer que eu assine um contrato SÓ PRA VOCÊ ME DIZER A TESE? E se eu não concordar?

– Ah… bem… mas o senhor tem que entender que eu não trabalho de graça! O Henrique me ensinou…

– Nananana… vamos fazer o seguinte? Cê pega a tese e o Henrique e (cobraslagartoscaveirinhascomcarademau)

– “TAKÊO” HenriquÊ… e agora o “guê gui” eu faço, mêo? Esses filhodabuta vão me enganar sempre?

Qual é o erro, pequeno gafanhoto… o que você está fazendo de errado? Minha vez de perguntar, ok?

Você sabe qual é o problema do cliente?

– Não.

Sabe se ele vai te contratar?

– Não.

Sabe se ele está só te testando?

– Não.

Em caminho de paca, corre tatu?

– Hein?

Esquece… Meu amigo… companheiro de guerra… você é o cara! Lembre-se… você passou sei lá quantos anos estudando aquele bando de lei justamente porque a maioria sã da população NÃO QUER TER ESSE TRABALHO! Ou seja, você tem o conhecimento que eles optaram por não ter.

E esse conhecimento te fará ter uma visão diferente da usual sobre um problema! E essa visão diferente possui valor! É resultado do sem-número de horas que você passou estudando!

Além disso, você vai perder um bom tempo estudando o caso do cliente, não vai? Claro, você é competente! E a sua opinião, pro bem ou pro mal, será útil para ele. Quer ele vá ajuizar a ação, quer não.

O seu estudo preliminar tem MUITO VALOR!

Cobre por ele.

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