tagueadores.jpgEles são discretos e silenciosos, moram bem longe dos homens. Escolhem com carinho a hora e o tempo do seu precioso trabalho. São pacientes, assíduos e perseverantes. E, quando não o são, evitam qualquer relação com pessoas de temperamento sórdido. Assim que li o já famoso post State of The Blogosphere , que o Editor do Blog do Technorati, Dave Sifry, publicou no último dia 14 de fevereiro, a letra do clássico do Jorge Bem não me saiu mais da cabeça. Sim, porque em um tom discreto e silencioso, os autores de blogs escolheram muito bem a hora de fazer seu trabalho. E, hoje, quando o mundo inteiro navega ao sabor de assuntos, dos mais específicos aos genéricos, eles estão com os vasos de vidro e os copos de louça prontos para consolidar um novo modelo de comunicação. Um modelo que, arrisco, vai impactar o jornalismo, a propaganda, a indústria editorial, eu e você. Todos que dependerem de conteúdo vão descobrir que, na verdade, a partir de agora, o conteúdo é que depende de nós. Neste segundo post coletivo do Carreirasolo, uma parceria com o www.brandgame.net vamos discutir os impactos que os conceitos lançados por este artigo podem trazer para a cabeça de quem produz conteúdo.

Mas de que falava o State of The Blogosphere?

A Technorati publicou em duas partes no mês de Fevereiro (dias 06 e 14) uma nova edição da pesquisa State of the Blogosphere, que se iniciou em Outubro de 2004 como um trabalho atualizado regularmente de monitoramento da Blogosfera. O que dá autoridade à Technorati para falar sobre blogs é o fato de atualmente acompanhar mais de 28,9 milhões deles por todo o mundo e de fazê-lo já há algum tempo, com uma massa de blogs que aumentou 60 vezes nos últimos 3 anos.
  • Se você acabou de pousar no planeta terra...um blog é um diário mantido na web, de uma forma dinâmica, fluida, mais parecida com uma conversa do que com uma obra literária. Ele permite interação com os leitores, sob a forma de comentários, sendo um veículo mais adequado a dinâmica da nossa querida www.
  • Alguns números: 11% dos usuários da web, 50 milhões de pessoas, mantém um registro desse tipo, e 12,000 novos são criados a cada dia, sendo feitos mais de 50,000 novos posts a cada hora. Novo conteúdo é gerado pelos usuários a cada segundo, num rápido e claro movimento de transformação do consumo de mídia, principalmente pelos jovens adultos.
Claro, os sites mais acessados do mundo continuam sendo de grandes veículos de mídia tradicional, mas, pasmem, o décimo segundo maior já é um blog!!! (www.boingboing.com).

Long Tail e Middle Magic

Mas vamos ao que interessa: o estudo discute dois pontos interessantes para a nossa atenção. Estatisticamente, dos 29 milhões de blogs, é fácil inferir que há muitos, mas muitos mesmos, que são linkados por poucos outros sites e blogs , formando aquilo que se denominou Long Tail uma enorme massa de blogs de pequeno público, os 80% restantes de Pareto…
  • Lembre-se: da mesma forma que o Page Rank, o algoritmo do Google, a Technorati também mede autoridade de um blog pelo número de links em outras páginas.
Só que entre aquilo que se chama A list, blogs como BoingBoing e Engadget e o long tail, existe um grupo de blogs interessantes, influenciadores e focados. Esses blogs são temáticos, tem conteúdo específico, como culinária, som, tecnologia, programação. A esse grupo de blogs, linkados por outros 20 a 1,000 internautas, o State of the Blogsphere chamou de Magic Middle. É lá que estão os autores como o Carlos Merigo, do blog Brainstorm#9, brasileiro mais lido sob o tag Marketing. O tag funciona como fichar um livro, ou referenciar uma dissertação de Mestrado com relação a que assuntos aborda. Na imensa Blogosfera, o tag diz em que prateleira cada página se encontra, tornando mais amigável o processo de busca.

Brasil: faltam ainda blogs ultra-específicos?

Quem começou a trabalhar no meio da década de 90 e desde lá tinha a ousadia de tentar explicar o modelo de agências de propaganda, clientes e diversos outros atores do mundo da comunicação acostumou-se a ouvir duas palavras: reengenharia e generalistas. A primeira tratava de reduzir o quadro das empresas ao mínimo tolerável. A segunda, em divulgar para o mercado que um novo perfil surgira. Ele sabia de tudo, mesmo que superficialmente e brilhava em palestras, em reuniões, em simpósios e eventos. Com o tempo, as duas tendências foram amainando e, os mais antenados entenderam que mais valia (ops, Marx agora não) ter uma empresa enxuta e com objetivos e missões claras e profissionais especializados em solucionar os problemas de seus clientes. Não que soubessem de tudo, mas tivessem algumas especialidades que somadas ao seu networking e vontade de trabalhar resultassem em retorno de investimento, ou, como preferirem, valorizassem o dinheiro investido em suas idéias. A Blogosfera é uma terra indomada ainda e talvez não consigamos jamais segurar as rédeas deste unicórnio que nasceu para ser livre, mitológico e supostamente dotado de poderes mágicos. Como salvar empresas, catapultar editores ao estrelato, vender produtos, gerar renda através de conteúdo, dentro de empresas mudar planejamentos de marketing, mudar a vida e a opinião dos leitores, ...o escambau. Mas assim como as duas tendências de mercado, precisa encontrar seu próprio tempo e amainar, sossegar. Dentro desta visão, os Blogs Genéricos são ainda desassossegados, querentes de muitas coisas e realizações, fatos e fotos, mas sem um fio condutor. Foram ótimos para o lançamento da tendência (meio, ferramenta, técnica?) mas hoje o cenário carece de uma atenção diferenciada.É a hora e a vez dos tagueadores.

Venha, me dê a mão, venha conhecer minha história.

Os blogs específicos, que começam a pipocar no cenário da Blogosfera Nacional vêm para pegar o leitor pela mão, lembram? Clarice? Ser a peça que faltava entre o tema de interesse do leitor e a imensa massa amorfa de informações diárias, na velocidade da luz que hoje a web representa. São agregadores de opinões e encontram sucesso (i.e. audiência, linkagem generalizada) quando criam um fluxo ininterrupto delas. Sejam nos posts em si, nos temas que levantam, nos memes que criam, nos comentários que geram, nas tags que dominam. Citando rapidamente alguns exemplos: DigitalMinds, RadarPop, Tableless, entre outros; tem leitores ávidos por seus temas centrais, geram buzz a todo momento e, em ferramentas como o Technorati estão começando a aparecer. E o tag, que maravilha, além de tudo, torna esses autores, esses blogs muito mais fáceis de achar. Quanto mais específico o blog, maiores as chances de ele encontrar um grupo de leitores fiéis que o revisitam regularmente e o divulgam criando um saudável word-of-mouth voltado para um determinado conteúdo...É o magic middle versão verde-amarela.

Assunto quente!

Alguns autores da blogosfera nacional questionaram nas últimas semanas porque não estamos tão bem posicionados como os gringos. O brasileiro não lê e nem comenta blogs. O brasileiro não linka e considera seus colegas como concorrentes. A blogosfera brasileira não vai para frente...enfim, opiniões valiosas, relacionadas ao final deste artigo. Aí me deu até a sensação que chamo de "sentado num departamento de criação de agência de propaganda multinacional". Ficava eu olhando os colegas ao meu lado e tentando entender porque aquele diretor de arte se achava em NY, Milão ou Londres. Porque recebia o briefing e, alheio ao mundo lá fora, criava para um público, que considerava seu amigo-imaginário. É sempre o mesmo e não cresce com você. O mesmo que assina os jornais que ele lê como referência, o mesmo que compra os carros que ele anuncia, o mesmo que ele vai encontrar no almoço. Enfim, um público pouco variado. E pequeno. Vivemos num país de renda ultra-concentrada porém criativo e comunicativo por natureza. A união disso? Gente que só pode consumir o sonho de consumir (mais detalhes em: Cliente de Marca Pirateada também tem valor).Acho que com os Editores da Blogosfera está acontecendo a mesma coisa.

Amigos, o brasileiro precisa apenas comer.

O que me levou a pensar o seguinte. Pode ser, eu disse pode ser, que estejamos num limite quantitativo entre aqueles que escrevem e os que supostamente podem ler. E entender. Somos nossa própria audiência. Enquanto discutimos como e porque precisamos ser mais lidos, comentados e linkados para aparecer no Technorati, talvez tenhamos nos esquecido que precisamos antes de mais nada, criar um público não somente leitor, mas um público produtor de conteúdo e conectado a sua própria realidade. Talvez a grande missão, o meme supremo dos Editores de Blogs nacionais seja criar a Blogosfera mais participativa, atuante, real, nacional, única...do planeta. Vamos divulgar os talentos dos amigos (dos reais e dos virtuais que acabamos fazendo aqui e ali) E aí, quem vai precisar de Technorati?

Chegou a hora.

E você não está de fora. Que tal nos reunirmos e pensarmos como fomentar essa brincadeira? Só tá lendo e não tá escrevendo ainda??? Muita gente boa já começou a batucar no teclado, veja: Viu só? Tá esperando o quê??? Eleja seu tag e junte-se ao Magic middle, pra não ficar mofando no long-tail.