Final de almoço com irmão paulista, aquele clima de infância renovada, claro que de roupagem nova, cheia de responsabilidades e funções tão altas como nossa pilha de quadrinhos colecionados desde milnovecentoseoitentaepoucos, enfim, irmãos adultos. Logo depois da despedida embargada, feliz pelo anúncio de natividade eminente, comecei a pensar naquilo que projetamos ao nosso redor, seja através de imagens profissionais, de feitos (não entrando aqui no mérito se bons ou ruins), de legado, enfim, na nossa ação no mundo. E, claro, em como isso afeta a vida dos friloprofissionais que chegam para esta vida, tabula rasa, sem saber por onde começar. Mas querendo muito um lugar ao sol. Alguns, na verdade, querendo ser o próprio astro-rei.
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Entrei no metrô para ter o insight final, ali, naquele vagão meio frio, meio esverdeado pela luz ambiente (aliás, alguém aqui consegue reconhecer este cumprimento de onda criado pelas luzes fluorescentes no ambiente?), uma nova empresa descortinou-se à minha frente. Seis senhores grisalhos, o conselho, dois muleques com o discman nas últimas, os boys, três moçoilas patriçolas a equipe de vendas externa, gerentas de projeto...uma balzaquiana séria com cara de violoncelista do Municipal, a executiva de recursos humanos, o envelhecido nerd de 25 anos, o contador. Enfim, os perfis sucediam-se claros como nunca, evidenciando, além de faces e estereótipos conceituais, que enxergamos as pessoas de acordo com nossos próprios filtros. Esta tríade (como nos vemos, como acreditamos que outros nos vêem, e finalmente como realmente somos) guia um capítulo específico e importante na vida de qualquer Profissional Freelancer: a reputação. É uma questão delicada, principalmente aqui, onde 70% (arriscaria até mais) dos leitores são neófitos. Como construir uma reputação do nada? Como utilizá-la para preceder suas apresentações ao cliente? Ela deve ser real ou um fantoche que você manipula de acordo com sua conveniência? Como você se vê? Aqui não é um divã, no entanto, vale sempre ressaltar que você precisa ter um foco profissional claro a sua frente antes de encarar esta vida e correr atrás dos primeiros clientes. Quer ser Flasheiro? Estude tudo sobre Action Scripts e demais particularidades da ferramenta. Consultor de usabilidade? Leve o Nielsen (livro)para cama e acorde com os posts do Feldman. Redator? Faça os cursos do Bruno Rodrigues, entre para as listas de discussão do Webinsider. Eu não canso de falar aqui, é só acertando o foco que você vai sair bem na foto. Como você acha que os outros vêem você? Feeling. Ou você tem, ou não consegue matar essa. Descontando aí as psicoses de uma maneira geral (e não é aqui que vamos responder as perguntas deste campo), sacar como os outros vêem você é uma habilidade crucial para momentos críticos, como aquelas reuniões intermináveis ou insolucionáveis, por exemplo. Costumo ler o corpo do cliente, parece bobeira, mas é verdade. Se o cara fica inquieto na cadeira, se os olhos não se fixam nos seus, se a qualquer pergunta ele(s) desconversa(m), sinais de fumaça. Claro que a questão é um pouco mais profunda e, muitas vezes, desenvolvida no longo prazo, mas é fundamental saber ler os momentos para tentar montar o panorama completo Como você realmente é? Este é quase a conclusão do primeiro e segundo pontos. Se você conseguir responder essa ( e me conte o método, porque estou tentando até hoje), os outros dois anulam-se instantaneamente: você verá a si mesmo como realmente é e não titubeará em mostrar aos outros isso. E fechará muito mais negócios assim. Alinhando tudo. Não tem método mais acertado do que a determinação. Portanto comece hoje mesmo. Eu tive a vontade de escrever sobre isso ao reencontrar meu irmão para um almoço, vendo-o ali com 12 anos, comigo fazendo um orçamento para ver se nossas mesadas chegariam ao final do mês e mesmo assim comprar as 20 revistas em quadrinhos que chegavam às bancas todo mês. Faça o teste: como você vê aquele que você acredita que é você? Na foto, Being John Malkovich, de Spyke Jonze, 1999