Estava eu outro dia dentro da barriga de um avião, sentado como se nada de anormal estivesse acontecendo além do fato de que, em minutos, seria arremessado a 500 km/h na mão de controladores de voo conhecidamente pouco competentes, quando tive um estalo. Não eram meus ouvidos pressurizados. Um bebê chorava. Três fileiras à frente alguém lia um jornal. Outro prestava atenção nas instruções de segurança. Risos ao fundo. Estava montado o cenário. Ou melhor, o roteiro. Alguém que tenha visto pelo menos um filme catástrofe na vida sabe que, nos sete primeiros minutos, tudo será sempre irritantemente normal. Pais saem para trabalhar com o copo de café na mão, o menino joga o jornal no jardim e dispara o regador automático, os vizinhos de sempre trocam acenos antes de entrarem em suas minivans e por aí vai. O que vem depois? Claro: a terra é invadida, um dinossauro passa correndo, Dr. Brown volta do futuro. É batata: o lugar comum antecede a hecatombe. E eu testemunhava um desses momentos! Que estranha sucessão de lugares comuns estava acontecendo. Temi pelo pior no exato momento em que decolávamos. [caption id="attachment_13840" align="aligncenter" width="640"]mauroamaral no Instagram Fui e voltei e está tudo certo. ;)[/caption] Claro, estou aqui e nada demais aconteceu além de horas em trânsito para lá e para cá em mais uma viagem “bate-e-volta” nas terras de São Paulo, essa capital do país do futuro. Mas esse estalo me levou a pensar sobre uma interessante reflexão e provocação aqui para a turma do Carreirasolo.org.

Até que ponto nos deixamos prender a um roteiro não criado por nós?

Como um de nossos temas principais é o Protagonismo, fiquei pensando durante vários dias sobre como deixamos roteiros escritos por outros guiarem a produção cinematográfica de nossa própria vida. Acontece de várias formas, mas uma das principais é na esfera profissional. Você mal sai das fraldas e pergunta para todos ao redor: "mas, o que dá mais dinheiro hoje em dia?" E daí começa a montar a sua formação e ascensão profissional baseada nessa premissa. Claro, você se esquece de calcular o tempo que vai levar para crescer profissionalmente e, principalmente, se essa onda vai durar até você chegar lá. Assim como finge ignorar (e está desculpado se não sabia) que 98% de sua atividade será cercada pela burocracia de sua área e não pelo fazer em si. Ignora solenemente que, mesmo tendo “opinião”, “formação”, “disposição” e até “talento”, as aspas vão surgir sempre que no lugar do significado reinar o significante que, no caso, manda mais do que você por questões hierárquicas, econômicas ou por seu mais forte mesmo. Por fim, exaurido, submete-se ao fluxo reinante e obedece às regras e predileções alheias e, no lugar de protagonizar o testemunho de seu tempo, vive como se não houvesse ontem, em um presente metódico e planejado para eliminar qualquer chance de diferenciação. Não é distopia, é só falta de visão e planejamento, meu caro. Então, fique atento. Essa história é sua. Para aqueles que teimam em esbarrar com a felicidade e realização, não há escapatória. Escrever a sua própria história e fazer o que se gosta e cada vez melhor. Ou então, esperar o filme passar os sete minutos iniciais.
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