Sabe como é, né: experiência vai, experiência vem e você começa a repetir e montar padrões em sua cabeça. É do humano, essa raça à qual temos a infeliz sorte de pertencer e, através dessa predileção por padrões, inventamos de achar, por exemplo, que estrelas se organizam na forma de um caranguejo ou de uma ninfa jogando leite pelo céu; ou ainda que as coisas acontecem "porque tinham que ser" etc.

Em função disso, outro dia, me peguei montando um padrãozinho mental aqui que, acredito, pode ser aplicado à diversas pessoas que você conhece. Principalmente aquela que você chama de você mesmo. É assim: deixamos existir dentro de nossa prática profissional quatro comportamentos que podem nos aproximar ou separar de realizar grandes feitos. Entendendo grande aí como uma variável relativa, tá?

E eles nascem de nossa limitação em ver. A gradação que vou propor aqui - da mais estreita até a mais ampla - , normalmente envolve o acúmulo de horas de voo, de experiência como disse na primeira frase do artigo. Mas, em alguns casos patológicos, esse vício pode acompanhar você por toda a vida.

Então, vamos lá. Quatro padrões de comportamento, em escala gradual

Existe o profissional que é cego. E isso não tem nada a ver com não conseguir ver. Ele é cego, porque só enxerga a si mesmo. Tudo o que ele cria (este artigo funciona muito para carreiras criativas, ok?), é limitado pelo horizonte ilusório que ele mesmo montou ao seu redor, como aquela casinha na árvore que fazemos com galhos secos.

Ele é sua medida do Universo e sua principal referência. Em função disso, suas mágoas, limitações e questões não resolvidas vivem rondando seu espectro visível. Ele acerta na vida? Sim, mas só quanto aquilo que ele tem para oferecer casa com o que sua missão pede. É, portanto, uma questão de sorte. E sorte, meus amigos, é mais um dos padrões que insistimos em montar em nossas cabeças. Ou, bem acima delas, esperando para cair.

Bom, tem também o profissional míope. Este, vai até a fronteira que o seu chefe imediato pede. Ele cria - inventa, escreve, pinta, programa-, cumprindo ordens e tentando agradar a um microcosmo. Daí, como os mais atentos já devem ter imaginado -, se escraviza não só pela limitação alheia, como não atinge tudo o que a missão pede. Ele acerta? Claro. Até mais do que o cego. Mas, depende do ecossistema e de excelentes lideranças. Eu tive e ainda tenho o prazer de conviver com excelentes lideranças. Mas elas são raras.

Em nossa sequência rumo ao desvelamento, temos o terceiro tipo, o profissional de visão estreita. Aqui a coisa começa a tomar forma de competência, mas non troppo. Ainda usando a indústria criativa, como exemplo, este seria o tipo de profissional que cria o que o CLIENTE ou a MARCA parecem querer. Estamos próximos de um acerto aqui, né? Mais ou menos.

Como você pode ler nesse artigo recente do Think Google, vivemos o mundo dos micro momentos, onde comportamentos, tendências e valores não só mudam como evaporam de um dia para o outro. De uma hora para outra. De um momento para o outro.

Não são poucas as marcas maduras no mercado, mas são muitas as que precisam de ajuda para alinhar sua voz com as aspirações de um mundo em constante mudança. O que acontece quando esse profissional se depara com uma necessidade assim? Repete a dúvida, devolve a pergunta que lhe foi feita. Em forma de belas apresentações, posicionamentos e que tais; mas sem chegar lá.

E, finalmente, temos o profissional que enxerga longe. Seu foco? Tudo, menos ele. São outros que não aqueles que a hierarquia indica. E, claro, vai além do que a marca pretende. O profissional que enxerga longe tem um compromisso com pessoas. Os consumidores finais. Os clientes da marca. Os usuários de um aplicativo. Os leitores de sua história. Os ouvintes de seu podcast e os youtubespectadores de seu Vlog.

Daí vem sua ideia constante em se colocar no lugar do outro, de entender como será compreendido aquilo que ele vai levar ao mundo, quais os desdobramentos de sua atuação profissional, em esferas pessoais e culturais. Qual é seu legado, missão e propósito, enfim.

Ele foca em suas histórias, ele foca no momento em que elas serão consumidas e, tem por objetivo final, despertar nos outros o mesmo sentimento.

Por quanto tempo você segurou a pergunta: "Qual deles será que eu sou?"

Espero que por muitos minutos ou então que ela nem tenha lhe ocorrido. Como disse lá no primeiro parágrafo, nosso vício por enxergar padrões nos afasta a saborosa verdade do Caos. E ele comanda, você sabe, né? Digo isso porque não existe ninguém nesse ou naquele estado puro. Me parece que somos manifestações tendendo mais para um lado do que o outro e podemos, por proteção, medo ou simples falta de oportunidade, escolher um desses comportamentos para viver a vida. Ou a semana.

Ou o micro-momento da leitura de um post.

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