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O Carlos Merigo tem nos revelado os bastidores da propaganda, seus temas mais polêmicos, premiações e muito mais diariamente no excelente Brainstorm#9.Estou sempre por lá e, dia desses, deparei-me com o trabalho do estúdio de ilustração paulista Macacolândia. O trabalho dos quatro amigos é tão bom, tem tanta personalidade e é tão "quente" neste nosso mundo de Photoshops e Adobes afins que não resisti em trazê-los aqui para compartilhar conosco suas experiências. Daldoce, Danilo, Braga e Zuardi trabalham juntos procurando promover a qualidade em vez da quantidade e, pelo que pude perceber, através do portfólio e do papo por e-mail, o traço em vez do traçado rápido da solução fácil. Mandaram as respostas, os perfis de todos, ilustrações e está tudo aqui. E em todo lugar. Clientes, contratem. Parceiros, conclamem. Estatigiários e assistentes, marquem uma hora. Mas depois. Agora, vai todo mundo sentar e ler com calma. A Macacolandia é um estúdio que atende prioritariamente o mercado de propaganda. É esse hoje o único mercado? Como fica a produção artística (fora dos jobs) da equipe?
A Macacolândia é um estúdio de ilustração composto por mim, Marcelo Braga, Marcelo Daldoce, Danilo Beyruth e Maurício Zuardi. 4 sócios, 4 amigos, ilustradores, ex-assistentes e ex-diretores de arte de agências de propaganda. Por causa dessa nossa experiência e contatos no mercado de publicidade, foi daí que veio o trabalho inicialmente. Nossa intenção é de atender a qualquer um que possa precisar dos nossos trabalhos, mas por enquanto o que mais aparece aqui são as agências. É onde somos mais conhecidos, mas sabemos que não é a única possibilidade, estamos sempre acompanhado o mercado editorial, quadrinhos, jogos, animação, cinema e tudo isso sempre contribui de uma forma ou de outra no nosso trabalho. Com o tempo vamos acabar recebendo novos clientes, novas propostas e com isso a coisa vai se diversificar mais. Por enquanto não temos pressa, cada coisa no sua hora. Paralelo ao nosso trabalho, todos aqui desenvolvem outros projetos, mas o tempo pra eles é muito curto, o que acaba fazendo com que muitos acabem na gaveta antes mesmo de amadurecerem. Parte disso acaba aparecendo em algum Blog, ou site no estilo Deviant Art quando não fica hibernando em algum caderno de esboço perdido.
Como surgiu a idéia de criar um estúdio? Vocês chegaram a trabalhar antes em agências ou algo assim?
Nós 4 trabalhamos em agências por alguns anos. Três de nós na DPZ e o outro na F/Nazca. São agências grandes, importantes e exigem muito de cada profissional. São muitas horas de trabalho por dia e os prazos de entrega de trabalho são cada vez mais curtos. Ainda assim, todos estão fazendo sempre mais de um trabalho por vez, criando vários materiais ao mesmo tempo e a gente sentiu que apesar de estarmos numa grande agência, nem sempre tínhamos tempo de entregar o melhor trabalho possível. Com tanta pressão, a produção sempre acaba sofrendo um pouco. Além do mais, sempre gostamos de ilustrar, e em propaganda usa-se muita ilustração, storyboards, personagens, layouts para anúncios. Muitas vezes ilustrávamos como freelancers dentro da própria agência. Claro, precisávamos fazer isso a noite ou em fins de semana, mas era algo com que se podia ganhar dinheiro e desenhar, que é uma coisa que todos aqui fazemos com prazer. Por isso a idéia surgiu, como pegávamos cada vez mais trabalho dentro das agências, por que não montar um pequeno estúdio só de ilustração e trabalhar durante o dia com o que a gente gosta? Incicialmente eu e Daldoce nos mudamos para o escritório do apartamento onde morávamos com o Maurício. Já nos denominávamos "Macacolândia" nesses dias. Depois de seis meses o Danilo se juntou a nós e quando o Maurício veio também, sentimos que estava na hora de alugar um lugar só pra Macacolandia. A idéia veio anos antes da criação do estúdio em si, mas foi amadurecendo devagar até que era a coisa mais óbvia a ser feita.
Vale a pena ser freelancer/pequena empresa?
Sim, só o fato de estarmos em um lugar nosso, decidindo como os trabalhos devem ser feitos e o que fazer com nosso tempo livre, já justifica tudo. A pressão ainda existe e os prazos curtos também, o que mudou foi a nossa capacidade de negociação com os clientes. Quando essa atmosfera corporativa dá lugar para um ambiente mais tranquilo, informal e descontraído, os trabalhos sentem, fluem melhor e refletem toda essa mudança no processo criativo. Muitos impostos também, mas estamos no Brasil, não tem jeito. (Nota do Editor: O pessoal da Macacolândia enfrenta isso assim como nós, como vimos do capítulo Legalização, no nosso Minicurso)
Como você enxerga hoje a formação do profissionalde ilustração? O que aconselharia.
Acho que a formação dos ilustradores é ainda como sempre foi, cada um na sua, desenhando em casa, ganhando experiência, depois se aventurando profissionalmente e lidando com o mercado de trabalho. Cada um do seu jeito, com suas influências e referências, mas sempre parecido com isso. Não acredito que existam cursos que ensinem realmente alguém a desenhar. Existem cursos de desenho, onde você pode aprender muitas técnicas úteis, conhecer outras pessoas, outros estilos e tudo, mas se aprende mesmo é na velha prancheta, na escrivaninha do quarto, se comparando com outros artistas e assimilando influências. Ou seja, tem que gostar da coisa e investir nela, como qualquer outra atividade. Claro, a partir daí alguns cursos que se encontram pelo caminho ajudam, mudam o enfoque da coisa, vão lapidando o desenhista. No mercado é que está o teste final, onde toda essa bagagem vai ser testada, e muitas vezes o que importa é o jogo de cintura, a maneira de tratar os clientes, mais do que o próprio talento, é um negócio. O trabalho do ilustrador profissional nunca acaba, é sempre preciso olhar coisas novas, escolher novas referências e aumentar o seu repertório de artes gráficas e de qualquer outra coisa que se julgue interessante. Muitas vezes uma solução de um problema vem a partir da influência de alguma situação ou experiência que a gente nem lembrava.
Como é a prospecção de clientes na Macacolândia?
Basicamente funciona por indicação, nossos clientes ficam sabendo do estúdio a partir de algum comentário no próprio meio publicitário. É a propaganda boca a boca que traz mais clientes pra cá, o resto deve ficar sabendo pelo nosso site. Isso nem é prospecção, mas os clientes chegam do mesmo jeito.
O pessoal que está chegando, muitas vezes, pega uns vícios, vira dependente de softwares meio que engessados, o que gera um trabalho nivelado pelo programa e não pelo talento de quem o opera. Percebo muita personalidade nos traços de vocês. Como se dá este processo? Lápis, papel, guardanapos e o que mais tiver a mão são ainda o ponto inicial de todo grande trabalho?
Nós aqui sempre desenhamos desde pequenos. Nossa intimidade é com o papel. A discussão sobre como os programas podem substituir os profissionais é antiga e e resposta ainda é a mesma: programa é ferramenta, quem opera o lápis e o mouse é a cabeça, é a forma de olhar para o desenho. O que deixa um trabalho com ou sem personalidade é a intenção, não a capacidade tecnológica. Você pode usar uma tablet e desenhar direto no programa do computador, mas o processo é o mesmo que num guardanapo. Essa é a característica que nós procuramos manter sempre viva.
Planos para 2006? Interessandos podem mandar portffólio?
Os planos são os mesmos desde o primeiro dia, trabalhar bem, mas na medida certa, manter um ambiente saudável no estúdio, sem gastar energia em coisas inúteis, crescendo na medida do possível e sem nunca dar um passo maior que a perna. Se o ambiente for bom, o trabalho vai ser também. Os interessados sempre nos enviam links para seus sites-portfólio. Geralmente vemos todos, precisamos estar de olho porque nunca se sabe quando outro macaco pode cair de um galho por aí.
Enquando isso no Portfólio. Olha que seleção bacanuda os amigos simiescos reservaram para gente. Primeiro vamos abrir com a ficha da galera (Só para lembrar, o Simion DDBZ - Macacolandia é formado por Daldoce - Illustrador / Simia Troglodytes; Danilo - Illustrador/Simia Hamadryas; Braga - Illustrador/Pongo Pygmaeus; Zuardi - Illustrador / Leontopithecus Rosalia). Para quem quiser: o portólio