A convivência nos fala da arte de viver em companhia do outro. Mais do que isso, o conceito remete à ideia de coexistência pacífica e harmoniosa de grupos humanos num mesmo espaço. De outra forma, ela fica reduzida a uma boa intenção como tantas que superlotam o Inferno. Esse relacionamento interpessoal exige a capacidade de interação e a habilidade de aceitar as pessoas como elas são. Pronto, estamos diante de um grande desafio. Não por acaso, um monge afirmava algo como “Comunidade, penitência máxima.” Ele sabia das coisas. convivencia-640   Conviver, mesmo para aqueles que se dedicam integralmente ao seguimento do Evangelho, exige sangue e suor. Despojamento. O poeta Mário Quintana adverte: “A arte de viver é simplesmente a arte de conviver... simplesmente, disse eu? Mas como é difícil!” A tarefa não é, portanto, das mais simples. A criação de laços leva à existência de vínculos mais profundos, vitais, e à experiência de viver sob a segurança do apoio oferecido pelo grupo. A ausência prolongada dessa condição de isolamento pode ter impacto na saúde física da pessoa submetida a esse processo. Segundo alguns estudos, entre imigrantes se verifica um maior índice de doenças cardíacas se comparados com habitantes nativos do lugar. Isso acontece devido à ausência de laços de amizade e do apoio dos familiares. Para profissionais da área médica, da psicologia e da sociologia, a convivência é um fator preponderante para o bem-estar emocional e para a saúde dos indivíduos. Pesquisas demonstram que pessoas confinadas, vivendo sozinhas, estão mais predispostas a sofrer acidentes, ter problemas de doenças mentais, cometer suicídio, dentre outros comportamentos resultantes do isolamento. Relacionamentos fortalecidos criam o sentimento de pertencer, não viver segregado. Isso tende a criar um senso de comunidade e, consequentemente, uma identidade grupal. O processo se explica pelo fato de que o ser humano é social na sua natureza. Fieis a essa linha de raciocínio, algumas correntes de pensamento defendem a teoria segundo a qual a consciência do “Eu” só se pode ter lugar a partir da existência do Outro. Ninguém jamais conseguiu viver absolutamente isolado. Afinal, a interação com o outro é imprescindível para o bem-estar e a saúde. Mesmo que essa convivência seja dificultada por aspectos sociais, culturais, religiosos, econômicos etc. “A solidão é muito bela... quando se tem alguém a quem o dizer”, diz muito bem o poeta espanhol Gustavo Adolfo Becquer. A criação de laços leva à existência de vínculos mais profundos, vitais, e à experiência de viver sob a segurança do apoio oferecido pelo grupo. No entanto, para que a convivência alcance os seus propósitos, há de existir a presença de respeito e solidariedade mútuos, sem o qual ela se torna impraticável. A solidariedade leva à convicção de que existe um contexto que exala segurança. Assim, fortalecidos como grupo, pode-se relativizar a importância do Estado, mantendo-se o quanto possível independente dele e das suas práticas nem sempre em favor das pessoas. De tudo isso pode nascer uma sociedade marcada pela resistência gerada por esse viver-com, algo que no final das contas faz toda a diferença. Mas isso supõe a mudança de paradigmas: ao invés de levantar paredes, que fabricam a solidão a curto prazo, somos convidados a construir pontes, que permitem o vai-e-vem das pessoas em busca de oferecer e receber companhia.